Ontem, foi dia do meu pai. Ele morreu faz tempo, mas ainda penso nos remédios que guardava, todos vencidos no prazo, com as caixas amassadas e que nunca tomava. Tinha a mania de guardá-los. Aliás, guardava tudo e não achava depois, mas guardava também um bom humor e uma calma gostosas de se conviver.
Os armários, como lembro, tinham as portas fechadas sobre pressão, pois os guardados sempre eram maiores do que o espaço interno, em que ele queria mantê-los.
Inglês, gostava de manter o ar de David Niven e acho que até se esforçava para parecer cada vez mais com o estilo britânico do ator.
Mãe e pai, tão mãe, quanto pai, andou comigo no colo, muitas noites, por conta de uma urticária, que eu menina arrumei e que não me deixava dormir.
Já crescida, minha irmã tinha a sua companhia, à noite, nas conversas noturnas que mantinha, consigo mesma, dormindo. Ela, acordava e ficava falando, como se estivesse acordada. Só não saía andando, feito sonâmbula, mas ele, para não acordá-la, acho que achando que, como os sonâmbulos, rola a lenda que não devem ser acordados, conversava com ela, respondendo à conversa, como se fosse tudo muito natural. Eu, que era menor, nunca entendia, que conversa de bêbado era aquela, sem sentido, que acontecia algumas vezes, no nosso quarto.
Parecia que ele tinha a responsabilidade da total proteção das filhas. Desse jeito, quando a minha irmã começou a dar aulas em Senador Camará e saía de Copacabena, ainda escuro, para ir para a escola, lá ia ele, levá-la no ponto do ônibus e, recomendar ao motorista que cuidasse dela. O mesmo acontecia quando fui trabalhar no Vidigal. A escola, numa ladeira, era de dificílimo acesso. Comprou um carro e me levava lá todo o dia, pois eu estava grávida da Tina, o que justificava, para ele, esse trabalhinho extra.
Dirigia "pedra". Nunca vi ninguém que o fizesse tão mal. Uma vez, bateu numa ambulância, pois se freasse, eu poderia me machucar, pois estava no banco de trás, distraída, conversando.
LF, o meu filho, foi outra de suas paixões. Talvez, a maior delas. Passava horas, jogando futebol de botão com ele, deixando-o ganhar. Sua gravata, pois adorava andar de terno e gravata, era a Bat-corda, por onde LF subia, quase enforcando o magríssimo avô.
Acho que sempre foi magro e adorava engordar a gente. Eu fugia do tal do mingau de aveia, que os remadores ingleses tomavam, pois nunca precisei engordar. Emagrecer, sim. E ele esperava as filhas chegarem, para tomar chá ou mingau de aveia.
De repente, me dei conta de quantas são as boas lembranças que tenho dele. De quantas recordações preenchem na minha vida, os seus olhos verdes, que não transmitiu para nenhuma das filhas, nem netos. Uma lembrança lá, outra aqui e pronto, cria-se a imagem de pai. Calmo, que nunca bateu em filha, nem com uma mínima palmada; que foi tão amigo, que não eu precisaria encontrar mais nenhum nessa vida. Totalmente parcial, em relação às suas filhas, as mais bonitas e inteligentes.
Fui longe buscar isso tudo, num fiozinho de saudade que agora preenche a memória.
Os armários, como lembro, tinham as portas fechadas sobre pressão, pois os guardados sempre eram maiores do que o espaço interno, em que ele queria mantê-los.
Inglês, gostava de manter o ar de David Niven e acho que até se esforçava para parecer cada vez mais com o estilo britânico do ator.
Mãe e pai, tão mãe, quanto pai, andou comigo no colo, muitas noites, por conta de uma urticária, que eu menina arrumei e que não me deixava dormir.
Já crescida, minha irmã tinha a sua companhia, à noite, nas conversas noturnas que mantinha, consigo mesma, dormindo. Ela, acordava e ficava falando, como se estivesse acordada. Só não saía andando, feito sonâmbula, mas ele, para não acordá-la, acho que achando que, como os sonâmbulos, rola a lenda que não devem ser acordados, conversava com ela, respondendo à conversa, como se fosse tudo muito natural. Eu, que era menor, nunca entendia, que conversa de bêbado era aquela, sem sentido, que acontecia algumas vezes, no nosso quarto.
Parecia que ele tinha a responsabilidade da total proteção das filhas. Desse jeito, quando a minha irmã começou a dar aulas em Senador Camará e saía de Copacabena, ainda escuro, para ir para a escola, lá ia ele, levá-la no ponto do ônibus e, recomendar ao motorista que cuidasse dela. O mesmo acontecia quando fui trabalhar no Vidigal. A escola, numa ladeira, era de dificílimo acesso. Comprou um carro e me levava lá todo o dia, pois eu estava grávida da Tina, o que justificava, para ele, esse trabalhinho extra.
Dirigia "pedra". Nunca vi ninguém que o fizesse tão mal. Uma vez, bateu numa ambulância, pois se freasse, eu poderia me machucar, pois estava no banco de trás, distraída, conversando.
LF, o meu filho, foi outra de suas paixões. Talvez, a maior delas. Passava horas, jogando futebol de botão com ele, deixando-o ganhar. Sua gravata, pois adorava andar de terno e gravata, era a Bat-corda, por onde LF subia, quase enforcando o magríssimo avô.
Acho que sempre foi magro e adorava engordar a gente. Eu fugia do tal do mingau de aveia, que os remadores ingleses tomavam, pois nunca precisei engordar. Emagrecer, sim. E ele esperava as filhas chegarem, para tomar chá ou mingau de aveia.
De repente, me dei conta de quantas são as boas lembranças que tenho dele. De quantas recordações preenchem na minha vida, os seus olhos verdes, que não transmitiu para nenhuma das filhas, nem netos. Uma lembrança lá, outra aqui e pronto, cria-se a imagem de pai. Calmo, que nunca bateu em filha, nem com uma mínima palmada; que foi tão amigo, que não eu precisaria encontrar mais nenhum nessa vida. Totalmente parcial, em relação às suas filhas, as mais bonitas e inteligentes.
Fui longe buscar isso tudo, num fiozinho de saudade que agora preenche a memória.
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