outubro 10, 2001

Você vive ou assiste a esse jogo VIVER?

Recebi, ontem, de uma amiga trechos do livro "O Convite" de Oriah Mountain Dreamer que por lá diz assim: "...Sempre que obedeço meus desejos mais profundos, o medo está lá, retorcendo as mãos, me advertindo com sua ladainha de "e se...". (...)" O texto é muito interessante e parte para descrever a linha de pensamento do autor de uma maneira muito humana e tocante. Eu parto para divagar à vontade nas ondas levantadas pela mudança na maré provocada pela leitura.

Parei, como sempre faço quando recebo uma bola inesperada. E, apesar de já ter aprendido que não tenho que pegar todas as bolas que me são arremessadas, esta eu quis pegar -- e parar nela. Porque é uma frase feliz, realizada e incompleta -- logo quase humana, pois incompletos somos todos, pois que eu saiba nenhuma realização implica na completude, graças a Deus, pois é justo a falta o que nos move.

Começo imaginando que logo a seguir ao "e se não..." vêm os possíveis pensamentos quanto aos desacertos, tolices e arrependimentos que poderão acontecer. Ou não. Quem sabe do amanhã? Acrescentaria ainda o contraponto: "e por que não?"

Outra palavra que me chama a atenção é "sempre que obedeço aos meus desejos"... Desejo colocado como uma ordem que como tal deve ser seguida. Super interessante essa de dar ao desejo a conotação de ordem, mando, na mesma categoria e nível de qualquer outro compromisso social e já dentro dessa classificação, conferir-lhe importância.

Será que o fato de ser o desejo uma necessidade íntima e particular, por si só não se sustenta e como tal temos que elevá-lo a um enquadro inteligível no social? Pois que muitas vezes o nosso desejo fala exatamente de desmontar o que está montado e esse ato ou se torna uma obra de arte ou um estado de puro medo.

É a história do isto ou aquilo. Um jogo em que não há vencedores ou vencidos, pois sempre estão lá, desejo e medo, lado a lado.

A escolha do desejo traz o medo do novo. A escolha do medo traz a vida vendida e rendida às "certezas" nada emocionantes que nem valem a pena ser esperadas.

Tal qual a gangorra parada na mesma posição entra ano, sai ano. A escola sem criança. A festa sem gente. O bolo de chocolate sem cobertura e sem jujuba. A segunda-feira sempre com preguiça.

Pois então... por que não mover essa gangorra? Uma festa cheia de amigos? A escola cheia de crianças que lá estão com o prazer comum das férias? Um bolo com cobertura, jujuba, recheado de brigadeiro? E quem sabe, o sobrenatural afinal existe -- uma segunda-feira sem preguiça?