fevereiro 10, 2002

É Carnaval!

I

Para ser mais exata, Domingo de Carnaval e vi duas meninas fantasiadas --- de Jade. É O Clone, trazendo o Carnaval até você. (Na tela da tv no meio dese povo, a gente vai se ver na Globo!, lembra?)

II

Que coisa esquisita, criança fantasiada de adulto e, prá complicar, adulto inventado da tv. Essas mães têm cada uma. Sabe, eu acho que até as crianças estranham. E se encantam, com crianças fantasiadas de coisas de crianças. LF, o neto, me falou de uma garotinha do infantil do Colégio dele, fantasiada de Emília e disse que até a luva da mão dela era com os quatro dedos juntos e um separado; sabe como: Igual a mão de boneco de pano mesmo.

III

Dá a maior saudade dos índios, piratas, havaianas. Hoje se alguém diz que vai sair de havaiana, todos pensam que é de sandália de borracha. Cadê as bailarinas, com as sainhas de filó, sapatilas rosas, meia arrastão e o coque comum enroladinho na rede? As colombinas sumiram. E as tirolesas? Nossa tirolesa é uma fantasia muito antiga, mas era uma gracinha. O short verde com suspensórios com um galão colorido, vermelho, verde e dourado, uma camisa branca, um chapéu de Peter Pan com uma pena, meias soquetes brancas e sapato preto. Hoje, ninguém entende tanta roupa assim. Pode imaginar um destaque de escola de samba com tanta roupa? Dá para ver como antigamente isso aqui era mais fresco.

IV

Um ano minha irmã saiu de zebra. Era uma malha inteira, zebrada (claro), branca e preta que ia até o pescoço; bastante ousada, pois era colada no corpo. Na cabeça, saía um rabo de cavalo de ráfia preta -- o máximo. A fantasia era linda, apesar de quentíssima até para o Rio daqueles tempos. Fala a verdade: passa pela sua cabeça, alguém hoje, nesse calor infernal se fantasiar de zebra? Ainda corre o risco de ser processada por alguma organização protetora das zebras que deve existir por aí.

V

Muitos homens se fantasiavam de cabelos grisalhos. Era um talco no cabelo e, os mais incrementados (expressão dos velhos carnavais) usavam um chapéu de comandante de avião ou de navio ou de qualquer coisa. Naqueles carnavais, parece que eles não viviam a síndrome do medo de envelhecer. Era raro o tipo do "tio" com o suéter nos ombros e os cabelos acaju -- isso é uma péssima invenção moderna.

VI

Tinham aqueles maravilhosos que se fantasiavam de árabe ou sheik. Maravilha. Era difícil ficarem feios. Eu, pelo menos achava todos lindos, pois sempre tive uma queda por homens enrolados nos panos. Na minha fantasia eram todos Omar Sharif soltos no salão, arquitetando o rapto das tirolesas, havaianas e bailarinas distraídas. E ainda era comum os que se fantasiavam de "colar de havaiana", e, pronto, sobre qualquer roupa significava estarem fantasiadíssimos.

VII

Depois, era ir para o baile, ficar com os dois braços para cima, com os indicadores apontando para o teto; cantar os refrões das músicas, namorar muito, beber nem tanto, jogar lança-perfume nas costas suadas de alguém, namorar muito, cantar emocionado "está chegando a hora", dar as últimas puladas no hino "Cidade Maravilhosa", ir para casa e dormir -- porque no dia seguinte tinha mais.

BlogUpGrade I "Eu sempre me fantasiei de eu mesmo. Por isso nunca teve graça. Nem pra mim, nem pra ninguém. (...) Eu não dançava. Abaixava e ficava ali, catando confetti, serpentina e os restos das mulheres.(...) Um dia pisaram minha mão. Doeu, eu lembro; mas saí carregado de Carnaval nos bolsos - tudo que eu havia catado no salão." O texto completo, nos Comentários e no site dele