março 30, 2002

Relação madura.

Há muito já me convenci que a tal da relação adulta é a civilizada desculpa para que você mantenha-se protegido das invasões perturbadoras em sua vida. Nela, você tem o domínio da sua vidinha besta, em que só o previsível acontece; em que a vontade está constantemente abafada e fora dos perigos trazidos pelo desejo.

Eu, adepta dos arroubos da juventude, das pernas trêmulas, do coração descompassado, do riso frouxo e solto, de achar graça e até de torcer por um engarrafamento, só para ficar mais tempo junto e conversando -- sou obrigada a reconhecer: esse "frisson" só tem graça quando é natural.

Taí uma coisa que ainda não aprenderam a clonar e não dá nem para as mulheres mais cínicas, forjarem que ele existe, se de fato não acontece mais.

Isso tudo para explicar que estou vivendo uma relação madura com esse pedacinho aqui. Vivi, como tantas outras pessoas um ciclo: no início, uma certa timidez. Passou a uma certa confiança empolgada, que me levava a escrever com muito prazer. Depois chegaram os assíduos leitores e sem que eles pedissem qualquer coisa, passei a me achar em falta com eles quando não escrevia. Depois ainda, comecei a me sentir em falta comigo; afinal, mais um emprego?

Agora, o prazer de escrever para os amigos persiste -- quando acho que tenho alguma coisa a dizer. Criei um espaço; ele existe; e eu também: em outros lugares, fazendo muitas outras coisas de que gosto. E, apesar da relação madura e adulta, pode estar certo de que quando venho por aqui é porque os arroubos juvenis estão em alta e a vontade foi ultrapassada pelo desejo de escrever.