julho 02, 2002

Há certas frases que contém um quê do sopro divino.

Estou absolutamente encantada, seduzida, fascinada e atraída pelo conteúdo desse escrito -- "hoje, falho de ti, sou dois a sós..."

A maneira de dizer de uma saudade, preenchimento da falha/falta com a presença ausente que se une a mim para compor uma solidão solidária, traduzida nas lembranças. Coisa mais bonita de se dizer e de se ouvir.

E viu a profundidade disso? É você levar o outro em toda a viagem que você faz. É você lembrar, enquanto se veste, assiste televisão... é se distrair, abrir a guarda e pronto! Voltam as palavras, os sons, os silêncios, os risos, o prazer de estar sempre lá, ainda que secretamente guardado. Mas esses sentimentos não têm que ser guardados escondidos. Foi isso o que encontrei , no poema de Antonio Cícero.

"(...)Guardar uma coisa é
vigiá-la, isto é,

fazer vigília

por ela,

isto é, velar por ela,

isto é, estar acordando por ela,

isto é, estar por ela

ou ser por ela.

(...)

Por que se controlar, evitando estar com quem faz de você uma pessoa viva? Por conta de um equilíbrio? Quem procura equilíbrio é balança, que atinge o seu ápice quando pára de balançar e queda imóvel; a maior das incoerências essas tais balanças equilibradas.

Como vê, imobilidade só serve mesmo para elas. Para as gentes como nós, imobilidade é repouso e morte e não vale morrer aos pouquinhos, vivendo de equilíbrio em equilíbrio, de se controlar e se controlar e se controlar...

Vê só o que oito palavrinhas de uma frase fizeram desencadear em mim. Chegaram na hora certa para destamponar, o que tentava manter sob controle.

E assim disse aquela moça, minha amiga de alma.