novembro 27, 2003

Há pessoas que são suas amigas e você tem a completa certeza sobre isso. Mas há aquelas e somente aquelas que se encaixam numa determinada hora da sua vida e é com elas que você tem que falar.

Sei lá eu que forças cósmicas se juntam e te dão a garantia de que falar com elas é um monólogo com o seu espelho.

Será talvez a única miragem que irá encontrar na travessia desértica e solitária tão comum na tristeza.

Em análise fala-se no lugar do morto; aquele lugar em que o analista se instala, como um morto mesmo, não para apontar caminhos, mas para provocar você a se ouvir.

Para nós, humanos profissionais, gente comum, que quando muito tenta viver, é um lugar difícil de ser ocupado, pois no desejo de auxiliar o amigo, queremos palpitar, apontar saídas e assim, pensamos ajudar.

Muito mais complicado é você confiar de que o amigo, ao ser capaz de ouvir a si mesmo, pelas palavras que traduzem o seu desejo, encontrará a sua via de resposta. E, simplesmente, ouvir.

O grande gozo do bom ouvinte é solitário, pois quem o procurou, buscando uma solução, dificilmente reconhecerá a ajuda muda que recebeu.

Eu me orgulho de ter cruzado com gente que ouve e confia assim. Poucas, muito poucas, mas meu Deus, preciosas.