Tchau vó...Te amo
Hoje fiz uma constatação surpreendente. Na praia com o meu neto de 10 anos, entendi a diferença que há entre a relação mãe-filho e a relação avó-neto. Na praia calma, sem ondas assustadoras, ele pôde viver sem ter que me provar que era corajoso diante das ondas, e que não tinha medo.
Por outro lado, representando o papel do lugar do morto, eu que sei nadar bem, aceitei as aulas de natação como se fosse a primeira vez. E é assim que se dá a relação avó-neto: sem provas do que já existiu ou do que existe. Eu sei nadar e aceito aprender de novo. Ele tem os seus medos e os transfere para mim.
Se fôssemos mãe e filho, eu teria que ensiná-lo a não ter medo, como se isso fosse o normal. Ele teria que fingir que não o tem, como se isso também fosse o normal. Ambas as situações são mentirosas? Provavelmente, mas cada uma tem um papel fundamental na construção do eu em cada um de nós.
Avó de biquini, passando filtro solar, queimada, foge um pouco ao estereótipo de avó divulgado pela mídia. Eu sou a antítese da mídia, no entanto na construção da psique do meu neto, não abro mão de me colocar no lugar da que não sabe, da que tem que ser guiada. É engraçado. Mas sou recompensada pela despedida dele, quando a mãe chega para levá-lo para a praia com ondas, onde ele vai surfar:
Vó, tchau! Te amo! Assim, sem medir as palavras ou o efeito delas.
Nossa! O máximo! Principalmente quando existem tantas relações ditas adultas, em que muita gente grande não sabe dizer isso. Que pena!
Uma moça na praia me disse: o seu neto é tão ligado a você! Eu vejo isso nos gestos, no jeito dele falar com você. É mesmo. Eu gosto disso.
Acompanho o que ele faz, vibro com o que acerta, sou solidária nos fracassos, sou uma igual. Não tenho metas. Invisto em seu futuro, confiando no que é capaz de fazer. Não há um protótipo. Há o que ele irá construir.
Não sei se todas as avós são assim, na verdade eu já queria ter sido assim com os meus dois filhos; não pude, não era ainda essa hora para mim. Resgato isso agora, com eles, os filhos e com o neto. Que bom que pude resgatar. Ainda tive tempo e lucidez para fazê-lo.
Mas, voltando aos adultos... que pena e sabemos todos que pena é raiva.
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