Não a vida toda; apenas uma parte dela. Pois a nossa vida é assim. É feita de uma porção de partes. Umas você atua como protagonista; noutras é coadjuvante; em outras , figurante sem fala. Não sei o que eu fui na que vivi hoje. Experiência estranha. Fui ficar com a minha mãe; que não se lembrou do meu nome, mas dormiu segurando a minha mão. Creio que há um momento da vida em que você está noutra e as pessoas ao largo são apenas figurantes sem fala, coadjuvantes de uma história que não tem protagonista. Dei o jantar dela. Ela comeu tudo. Tentou completar uma frase diversas vezes sem conseguir, até que conseguiu me dizer que não tinha nada. Não sei de onde puxei uma conversa tola, em que lhe relacionei tudo o que tinha, como se falasse com uma criança: você tem uma cama, um armário, monte de santinhos, filhas, bisnetos, uma cobertor, uma televisão... e por aí fui, colocando num mesmo saco, filhos e armários. E ela ficou ouvindo, como que entendendo que tinha muita coisa, apesar de não haver, aprentemente nenhuma hierarquia nesses bens. Ela tinha alguma coisa. Pareceu confortada. O estranho disso tudo é que você sabe que ela é a sua mãe, mas não a mãe que você teve e que quer guardar como eterna lembrança. Ela é a mãe que eu tenho agora, apesar dela não saber bem o meu nome. E sei que a amo pelo que foi, apesar de nesse momento, fosse eu ou qualquer outra pessoa carinhosa que estivesse ao seu lado, ela seguraria a mão. Esse não é uma escrita triste; é estranha; é mais uma faceta da vida que aprendo.
maio 18, 2002
A vida como ele é (ou está sendo pelo menos para mim)
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