maio 09, 2002

Tenho saudade de poucas coisas na vida, mas saudade de umas gentes...

Por exemplo das coisas da infância; não sinto saudade. São boas lembranças o que guardo. Agora de algumas pessoas me bate uma saudade, que não é necessariamente ligada somente às boas lembranças; é falta mesmo. É tristeza de não estar com elas; de não estar aproveitando para usar o meu tempo com elas. E por saber que elas se ressentem dessa distância, tanto ou mais até do que eu.

Saudade que bate no corpo, além de na alma. É a falta da mão, do abraço, do silêncio, da cumplicidade, do querer ficar junto e, de lamentar não ter, nessa hora, o poder de esticar o tempo.

Achei lá na Rossana "pescado nas cinzas da Língua de Fel", como ela mesma disse. Olha só se você já viu uma descrição tão perfeita e visceral da tal da saudade das brechas-encantos dessa vida.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
Clarice Lispector