setembro 11, 2002

Era o dia do baile. Era o dia do teste, pois comunhão na dança já é meio caminho andado, para quem gosta de dançar. O jeito com que os corpos se encaixam, qualquer que seja a música, já prenuncia alguma música que logo logo vai seu tocada e ouvida num tom mais alto.

Seu parceiro pode te dar a certeza de que com ele você está segura. que ele não vai deixar você esparramar-se no chão.

Outros te expressam corporeamente que você é que tem que segurá-los e ainda mais, guiá-los, sem o que não irão a lugar nenhum.

Outros criam um sulco fundo no salão, pois começam e terminam a dança no mesmo lugar e isso de certa forma pode ser uma premonição de poucas perspectivas de divertidas aventuras na vida em comum.

Os pares certos flutuam, como se estivessem num salão vazio. Não esbarram, não erram passos, não inventam; só estão eles três: ela, ele e a música. O resto é a multidão invisível que extasiada assiste e faz o favor de ficar em silêncio, para não atrapalhar.

Mas isso tudo é dança que dança muito diferente em outros cenários, fora do baile.

Aquele que parecia um porto seguro, muitas vezes está mais para âncora daquelas que te grudam no fundo do mar, que nem ressaca move: quer dizer você não vai esparramar-se no chão; vai ficar presa no chão. Bem diferente.

Aqueles aparentemente sem uma direção própria muitas vezes se revelam aventureiros audazes, que percebem a melhor direção do vento, te contaminam, sem te forçarem a nada, de tal forma que não há como não acompanhá-los. Quer ir? Então vamos.

Os do sulco profundo são realmente contagiantemente chatos pela sua previsibilidade infalível. Todo mesmo sábado, mesmo programa, mesmo jornal, mesma marca de pasta de dentes, mesmo tudo, novamente.

Os pares certos nasceram certos e assim seguem ao longo da vida. A música não acaba; pode parecer que ela está tocando num tom mais baixo, mas isso é porque, como a idade chega para todos, eles já não ouvem mais como antigamente.