Quando era adolescente e me preparava para o vestibular, entre livros, cadernos e folhas soltas, ia para a janela; olhava a obra que corria solta no meio da rua e invejava aqueles homens que trabalhavam, sem ter que estudar e ter um vestibular pela frente. Nos dezessete, com toda a onipotência de ter o mundo girando em torno do meu umbigo, pouco me dava conta do absurdo que era tal pensamento. Estudar, viver a tensão era o mundo que eu não queria.
Muitos anos depois, esperando o primeiro filho, sonhava e invejava quem podia dormir de bruços, impossibilidade momentânea da gravidez.
Meses depois, com o filho já nascido, sonhava com as noites inteiras de sono, naquele momento, interrompidas com o choro noturno, que picotava a noite e o sono da recém-mãe.
Hoje ainda guardo uma certa admiração pelas amigas simples, descomplicadas, que são felizes com o que têm e desvalorizam ou não se dão conta do que não têm. Assim, posso imaginá-las, fazendo o programa de amanhã, dividido entre a feira, o almoço, a televisão e quem sabe no domingo, assistir ao show do Roberto Carlos lá no Aterro.
Não é que eu não me ache comum; acontece que acho cada vez mais difícil ser comum. Queria ser menos exigente, menos sonhadora e mais complacente com a tal da felicidade.
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