"Vestiu uma camisa amarela e saiu por aí"; a história podia começar assim.
Acordou, no dia seguinte ao seu aniversário e ia para a praia. Lembrou-se antes, de pegar o telefone do homem que consertava o fogão, a fim de marcar uma visita dele às bocas de fogo, em permanente férias e ver se assim a mulher o deixava em paz, parando de reclamar. Ao procurar sobre a mesinha, encontra um recibo da compra de um relógio, feita no dia de seu aniversário. Um daqueles de mergulho. Mas como? Não mergulha. Não ganhara presente, não dos da casa. Caiu a ficha dolorosamente e com estardalhaço tal que o fez sentar-se no chão e não chorar. Não chorou aquele choro das lágrimas; só ele soube do seu pranto.
Tanto barulho fez com que ouvisse os sinais, que agora descobertos, estavam ali evidentes para quem quisesse ver ou ler. Ligações interrompidas, saídas repentinas, aqueles sinais comuns de quem quer fugir. Solução primeira: "rodar a baiana" e fez isso com todo o talento que move os ofendidos. Solução segunda: a reconquista.
O resultado foi a capitulação, o "amor" de volta. Sabe-se lá o porquê, mas a volta revelou um desrespeito, uma descrença tão grande, que se ela não tivesse voltado, talvez ficasse o rancor por ter sido traído, mas persistiria a admiração pela mulher, que luta por um amor, por sua crença. Sabe que a permanência não teve a ver necessariamente com ele e sim com o que havia sido construído material e afetivamente: casa, flhos, família e essas coisas.
Mas, a camisa amarela, quando foi que ele começou a usar? Logo depois que percebeu que vivia uma situação colada num sonho, um remendo do que quisera e que não queria mais. O que se faz numa hora dessas? Vai se provar a si mesmo que é homem, macho. E mostrar que também pode. Uma carta de alforria que o liberta da correntes de flores, que de tão bonita, ninguém quer ser o vilão que vem e a desmancha. Cuidar da alma e do corpo: liberdade, igualdade; faltou a tal da fraternidade.
Ainda tem gente que diz que as histórias do Nelson Rodrigues são inventadas e que homem não chora. Não chora pouco.
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