julho 14, 2006

A
multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber

se é ou não é.

O amor pega cavalo,

desembarca de trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

É descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

Adélia Prado