junho 06, 2001



Hoje visitei minha mãe

Ela mora longe, em Jacarepaguá. Nossa! Como Jacarepaguá é longe, pelo menos para o carioca, acostumado a ter tudo pertinho.

Fico pensando em como eu poderia aproveitar de ter uma minha mãe. Não dá nem para avaliar a falta que é você não ter uma, numa vida em que racionamentos, ganhar mais dinheiro, resolver as emoções que não param de exigir cuidados e gerenciar resultados, ocupam a sua vida e cabeça.

As lembranças da infância falam de uma mãe na sombra, ofuscada por um pai que era mãe-confidente, educado, calmo, elegante. Hoje eu acredito que ela esperava mais do casamento como mulher e que, o que alcançou como esposa superou suas expectativas. Morou na zona sul, seu sonho de consumo. Por isso, esse negócio de morar na zona oeste, até hoje não foi bem digerido. Enfim, foi politicamente correta a sua felicidade no casamento. Nada muito excitante -- só um casamento e das "antigas".

Existem lembranças mais nítidas, mas aí eu já era uma adolescente. Minha mãe fez curso de costura em plástico. Vocês não imaginam a quantidade de inutilidades domésticas que podem ser feitas de plástico para uma casa. Era porta-fósforo, porta-calcinha, porta-meias, capa de liquidificador e mais e mais e mais coisinhas para o lar. O término do curso teve direito a certificado e todos participamos da emoção do novo aprendizado materno. Como as famílias eram unidas. Hoje você faz pós-pós-graduação e a família nem curte.

Ainda uma imagem ligada às costuras é a lembrança das roupas que ela fazia para nós. Nos meus 15 anos, vi um vestido branco, de bordado inglês, com uma faixa amarelo ouro na cintura, de onde saía um ramo de flores miguet. Lindo. Só que fiquei imensa de gorda com tano babado. Aliás, desde os quinze anos que eu nunca precisei de babadinho nenhum para encher a minha silhueta.

Ela estava linda, com um vestido emprestado de uma amiga, com uma gola de peles. Naquela época, você podia usar gola de pele de verdade, sem ter o Greenpeace atrás de você. Naquele tempo, as mães faziam vestido novo para as filhas e iam com vestido emprestado. Things have changed.

Lembro de outro vestido todo de sianinhas; nem sei se ainda existe sianinha, mas era super bonitinho o galão ondulado que parecia com as ondas do mar ou, mais modernamente com as calçadas da Atlântica. Sempre me lembro dela fazendo alguma coisa -- sua forma de amor distribuído.

Lembro dela na maternidade comigo, quando nasceu o meu primeiro filho; depois chegando cedinho na minha casa para ficar com ele, enquanto eu ia dar aula, lá na casa do chapéu. Sempre trabalhando.

Muitos amadurecimentos depois, eu a desvelei e, aí a reencontrei, agora como duas mulheres que se tornam amigas, não por terem uma história comum, mas por afinidade. E foi tão bom esse reencontro. Até hoje somos amigas. Sem cobranças, sem distâncias e sem proteções. Há um grande querer bem entre essas duas mulheres que somos.

Portanto, vou mudar o título desse escrito: Hoje visitei uma amiga