maio 31, 2002

Começo de uma nova história.

Pois então, um dia eles saíram do papel incômodo das histórias que viveram até então e juntaram-nas num novo roteiro. Nem pensaram que não fosse dar num final feliz. Aliás, se pensassem, era melhor nem começarem nada novo e permanecerem no final previsível que vislumbravam e que foi um dos motivos do surgimento do desejo de novo roteiro. Seria o máximo da falta de fome, com a vontade de não comer, não é não?

Acontece que às vezes, as engrenagens se juntam, que não há como mantê-las isoladas. Ainda assim, apesar de todo o óleo que lubrificava as juntas, os dois levaram anos pensando, se imaginando em seus novos papéis, decorando respostas, antes das perguntas serem feitas; enfim, pensaram, pensaram. Partiram.

Ela virou fazendeira. Logo ela que adorava o "frisson" / bochicho da cidade; se amarrava num shopping às vésperas do Natal ou do Dia das Mães. Ele fazendeiro? Só porque queria ter uma horta? Partiram mesmo.

Então, o novo roteiro, tinha os Oscars merecidos e protagonizados pelos personagens centrais e um monte de coadjuvantes. Ela ganhou mais três filhos, um genro, mais um neto. Ele ganhou mais duas filhas, dois netos e uma nora. Isso sem contar, os tios-mala, as tias-mala, dois pais e duas mães!

Atores principais que se garantem, mantêm os coadjuvantes como coadjuvantes, importantíssimos para comporem o cenário da história, mas sem nenhum direito a voto de concordo ou não com a sequência que os atores querem dar à história.

Então, os dois combinaram assim: há uma só ala - a dos coadjuvantes, que será sempre uma unanimidade: ou todos são lindos, ou todos são perfeitos, ou todos têm defeitos ou todos são umas gracinhas ou umas drogas que só trazem problemas. Agora, quando cada um estiver estiver só com a sua ala, com o sangue do seu sangue, aí pode falar mal à vontade, meter o pau, descer a lenha, bronquear.

E a fazenda tem permanecido aberta para as visitas, os almoços e os jantares. E os detentores do Oscar, nessa nova história, agradecem os aplausos, pois é o único retorno aceito por eles, atados pela química até hoje, nessa historinha inventada, mas tão bonitinha.