junho 08, 2001



Passei da fase em que curava resfriado na praia

Isso denuncia que já fugi da adolescência. Por outro lado me armo da força da voz de um imortal da Academia que disse que ser jovem é poder se surpreender.

Dou uma banda no tempo e me agarro nesse mágico poder de ser surpreendida. Não sei bem o porquê da surpresa estar como indicador da juventude, uma vez que o jovem está tão imerso no viver, que não tem tempo para surpresas. Ele, simplesmente, vive.

Nós, os adultos, passamos a almejar viver apenas o que conhecemos, repetindo a cada dia, o que está sob controle. E é aí que surge o clique da frase do imortal. É aí que cai a ficha. Estar atento às surpresas e, aceitá-las, é peitar o novo. É desmontar o conhecido para montar algo novo.

A cada surpresa, tentamos puxar o freio de mão; damos um breque para respirar e tomar fôlego. Os corajosos seguem, após recuperarem o ritmo da respiração. Os outros negam e buscam justificativas racionais para se convencerem de que aquele novo afinal, não vale tanto a pena assim. Os outros Outros administram as ações inesperadas estrategicamente, sem abrir mão delas, de forma a conciliar o prazer de vivê-las às certezas já conquistadas.

É uma outra surpresa saber que há tantos outros em nós.

Na verdade o que importa é ter coragem de admitir a incômoda falta que faz a surpresa em nossa vida. "Me faz de gato e sapato..." (Rita Lee), "trocar o pneu com o carro em movimento"(Governador Mario Covas) são expressões cunhadas em contextos diferentes, mas que falam da mesma coisa: de viver as coisas como elas surgem; sem tempo para passar baton