janeiro 26, 2002

Num quiosque da Lagoa

Eu fico revoltada diante da incapacidade que temos de tratar muitíssimo bem o que Deus nos dá de graça. Pois então, foram concedidas licenças para os quiosques comercializarem à vontade, num dos terrenos mais espetaculares que qualquer investidor poderia imaginar -- na Lagoa. Bem, ela continua linda, agora cercada de manguesais, que têm a responsabilidade de manter a oxigenação daquela água. Os orixás flutuando sobre as suas águas dão um aspecto místico àquela orla de babel, em que uns andam de skate, outros de bicicleta, outros de uns carrinhos, alguns correm e muitos andam. Conforme anoitece e as luzes são acesas, surge a Lagoa by Night, um outro cenário mágico em que os prédios à sua volta, iluminados de baixo para cima, ganham contornos novos e crescem. Refletidos nas águas, tornam-se cartões postais.

Então, ontem, naquela tarde gostosa de verão nada pelando, fomos para um quiosques tomar nosso chopp geladíssimo e comer as coisinhas gostosas só para acompanhar a caída da noite. Aí começamos a sentir os efeitos do nosso desleixo com o que nos é dado. Dizemos ao graçon que somos 8 pessoas e pedimos para ele juntar 3 mesas. Não pode: para 8 pessoas são 2 mesas. Raciocino rápido e percebo que por esse cálculo, dois infelizes ficarão com os pés da mesa entre as pernas -- muito pouco confortável, mas regras estúpidas são regras estúpidas. Vamos ao chopp. Só tinha daquela marca que acho amargo e não gosto. Vamos partir para a cerveja. Vem quente. "Em vez do rapaz tirar a de baixo, tirou a de cima". Sente o profissionalismo do ato e da explicação do garçon. Enfim, vem a gelada. Gelada porque ele quer, porque gelada para mim é aquela temperatura imediatamente abaixo de congelar, quando você pega na lata, sabe qual? A que ele trouxe estava longe disso. Bem, balde de gelo e afogamos as latas -- foi a saída que encontramos. Agora fala sério: COMO numa sexta-feira, tarde-noite, um bar não tem cerveja estupidamente gelada?

Bom, os garçons com uns chapéus de árabe fazem lembrar das delícias das comidas árabes. O mini-quibe do Rio Sul é muito melhor. O tabule tem pimentão, arghhh! O quibe cru salvou-se, se bem que com 3 folhinhas de hortelã. Aliás, acho que o dono não gosta de hortelã, pois não o senti por ali.

Enfim, saí antes do que eu queria, pois imaginei que não seria fácil pegar um táxi. Acertei. Apesar do garçon dizer que tinha um ponto de táxi, não tinha ou se tinha o ponto não tinha o táxi.

Esse meu desabafo é indignado porque não é admissível que pensem que a vista bonita compensa o péssimo atendimento. Eu não volto mais ali e tantos outras pessoas também não. Não é admissível que não haja, internamente, controle sobre os serviços. Por que será que os donos parecem não ter nenhum compromisso com a qualidade? E quem somos nós que não reclamamos? Você vai a um barzinho em Miami ao lado de um laguinho que parece uma poça perto da nossa Lagoa e é a maior atração, o melhor serviço, o maior interesse em atender ao cliente. E ainda querem falar em turismo? Isso me dá uma raiva!