junho 09, 2002

Oito escritores + uma costureira = um novo roteiro.

Imagine um sarau. Reunidos na sala, repleta de ouvidos atentos, unem-se escritores, lendo exertos de suas escritas. Ouça:

Joyce (a costureira) - E feche os olhos e pense ou não pense; como quiser, mas qualquer que seja a sua, se eu fosse você, pensava:

George Miguel Pereira - É infinito o momento em que se pode ser feliz.

João - Se o sonho se esvai feito fumaça...

Joyce (a costureira) - E de parênteses em parênteses, ao final, eles são tantos que ocupam sua mente, seu coração e sua fala; a parte mais importante da sua vida passa a ser o que está contido nesses parênteses. E aí, o texto tem que ser reescrito e o conteúdo deles passa a ser a sua oração principal.

Zel - Você veio pra realizar meus sonhos. Todos, até os que eu não sabia que sonhava.

Joyce (a costureira) - E afinal, do que nos fala o sonho?

Claudia - desejo, massa de ar quente em zonas ardentes.

Joyce (a costureira) - Visceral; endógeno, interior do inconsciente, à espreita da brecha que o deixa escapulir e manifestar-se.

João - Todos os fogos, o fogo!

Joyce (a costureira) - E então, daí pra frente?

Claudia - que o desejo mais especial tenha a ousadia de uma asa delta... porque eu também sou filha de Zeus...

João - E por mais que se tente ou que se faça...

Claudia - nosso compromisso é com o centro. Lá, onde podemos ser fiéis, a nós, aos outros e à qualquer ousadia de felicidade

João - E dar um tranco pra que a vida não transforme cada sonho em quimera ou em trapaça.

Ro - Faço planos e de nada tenho certeza. Faço malas para ir ao encontro de expectativas. E se? Não me abandona a conjunção que exprime condição. Durmo, acordo entre um plano e outro e ouço a voz: "e se?" sem que eu possa saber as repostas todas.

Rogerio - não adianta achar este mundo pequeno, se nunca ultrapassar a esquina, não adianta sentir medo, se não executar o plano.. meus pés já estão cansados e não querem mais ficar parados neste lugar, meu corpo quer ir ao encontro do que sente falta e tenho a certeza de que não tenho como impedir.

- a pergunta que me faço por esses dias é: — será que sou proprietário apenas de palavras ou realmente ainda tenho em mim toda essa ousadia?

Nosótão O difícil é descobrir para onde ir, feito isso é só juntar os trecos por na mala e seguir viagem.

Rogerio - agora, vou lá, me encontrar com o meu futuro, tenha ele a cor que tiver, azul, branco, negro, amarelo, verde-limão....

- E não adianta ser perfeito...

João - dois imperfeitos têm muito mais chances de imbricação que dois pretensos perfeitos perfeitos,

Rossana - Você sou eu do avesso. E eu sou o avesso de você. E no entanto somos iguais. Tua mão esquerda é a minha direita e vice-versa. O meu contrário é o meu igual.

Rogerio - eu vi um mundo diferente lá fora, um mundo maravilhoso, uma terra de gigantes... eu descobri o meu lugar;

- E tem que ser delícia.

Rogerio - fecho os olhos em frente ao mar e sinto sua presença me convidando para mais uma jornada insólita.

João - então velas ao mar porque ali o vento embala e dá o rumo, e se não naufragar, certamente aportará, pois há sempre muitos portos em cada mar.

Rogerio - tenho medo de naufragar, mas nem por isso deixo de me lançar ao mar...

Nosótão Tenho certeza de que os deuses, felizes, mandam o bom vento para todos que têm a coragem de voar."

Joyce (a costureira) - E que os anjos digam: Amém, porque...

Rogerio - hoje eu não vou procurar palavras, sou todo torpor. estou completo em nós.