janeiro 07, 2004

Sabe aquela fresta, por onde a luz invade a parte escura? Aquela rachadura no chão da rua, por onde a água foge do cano e se esparrama, encharcando a terra? Sabe aquele decote de blusa, que faz pular aquela gordurinha escondida? Tudo bem, que foi péssima essa imagem da gordurinha, mas é assim mesmo. Pois então, estou falando das brechas.

A brecha é incoveniente para alguns, porque quebra as regras, escapole dos canos, rompe portas e qualquer outra barreira que se coloque em seu caminho. Por isso é brecha "que cria uma outra vida". Nada de vida dupla; chama-se, simplesmente, vida. E vou segredar, bem, mas bem baixinho mesmo, para ninguém ouvir uma coisa vergonhosa dessas: você acredita que tem gente que foge dela? Que tem medo do brilho dos olhos, do sorriso fácil, do silêncio cúmplice? Para esses, só cano mesmo; de preferência de chumbo ou PVC Tigre. Eu aconselharia também uma boa coleira e, por que não um antolhos?.

Mas como só posso falar de mim, sei que na brecha meus olhos brilham, meu sorriso é mais fácil ainda e eu sou muito mais feliz. Quando some, é péssimo: além de meus olhos custarem a se acostumar à falta de luz, ela ainda carrega o meu brilho no bolso.

Se esbarrrar na rua com alguém com um bolso brilhando, pronto, você encontrou a minha brecha.