dezembro 16, 2001

Das esperas

Ela chegou primeiro em casa. Olhou em volta, como que conferindo se tudo era mesmo real. Isso porque, aquele cenário, sala-cozinha, que ela agora olhava, esteve por vários anos, pendurada no mural de cortiça do seu quarto, recortada de um jornal. Ali, pendurada, esperando. E valeu a pena esperar. Quer dizer, valeu a pena esperar droga nenhuma.
Esperar é sempre uma chatice, mas pelo menos, dessa vez, ela havia chegado a algum resultado.

Mas, voltando a apreciar a sua obra, deteve-se a olhar a coifa prateada como aquelas de churrasqueira, imponente na parede em plena sala. Abaixo dela, o fogão elétrico e a pia, embutidos na bancada de madeira, num armário, onde, na parte de baixo, estava a pequena geladeira e a porta, onde ficavam as louças e as panelas. Ao lado dessa coifa gênio, um quadro e três frigideiras, completavam essa parede.

Na outra parede estava a estante multi-tarefa. As prateleiras eram, na verdade, prateleira-ambiente, pois uma era bar, uma era a biblioteca, uma outra era a do som e cds e por aí ia. Toda branca, com algumas prateleiras de fundo salmão, constratava com a madeira do armário e o prateado da coifa.

Estamos então com as paredes formando um L, certo? Pois então, bem no meio desse L, estava a mesa para quatro pessoas -- número máximo permitido no espaço e no sonho. Mesa tão leve, quanto tudo por ali. Tampo de pedra branca e cadeiras de metal com assento branco.

Dando mais dois passos e só dois, o sofá branco, gostoso e aconchegante, repousava sobre o tapete de Kilin de várias cores.

Ainda deu uma olhada nas plantas, tirou o congelado do freezer, verificou a temperatura do vinho, fez-se linda e esperou. Logo após, a chave gira na porta...

Às vezes, esperar é o máximo!