junho 15, 2002

Sign in x Sign out

Ninguém me perguntou, mas refleti e envio a você, para que faça o mesmo, se quiser ou se isso ajudar de algum jeito. A leitura dos indícios que nos falam da vontade de entrar e da vontade de querer sair são algumas vezes leituras de difícil compreensão. Admitir que quer ir ou sair sempre traz uma certa indecisão. Entrar, por exemplo. Por um impulso, você entra descompromissado numa relação. Talvez descompromissado seja muito forte; digamos que ela não o ameaça; que não se constitui em nenhum perigo que o faça perder o chão.

Aí você segue em frente...até que a vontade começa a crescer. Toma corpo, ocupa um espaço, esparrama-se incontida. O momento seguinte é você admitir que ama. Quando o ritmo dos pares é a mesma, é mais fácil, pois a pressão se exerce para os dois lados com a mesma força e estão ambos no mesmo barco. Quando aportam, as conclusões se assemelham e podem viver o seu amor. Sign in conjunto, ilimitado e irrestrito, se for amor de verdade.

Os indícios da vontade de sair correm pelo leito do mesmo rio. E nem sei se em sentido contrário. Volta a idéia da ameaça, agora não ao domínio de si mesmo, mas a ameaça muito consciente de estar aonde não quer, fazendo o que não é mais escolha, com quem não é mais o que foi; se foi algum dia. Novamente, se o ritmo dos dois é o mesmo, é mais fácil, pois o desgaste se exerce com a mesma força sobre ambos; não que isso diminua o impacto da constatação, mas há uma igualdade nas razões e sentimentos ou na ausência deles.

Pisca uma luz, duas luzes piscam, três luzes piscam, apontando para o brilho que está lá fora, em outros olhos. O que é verdade é que a motivação acabou e motivação, sentimento interno, existe ou não. Nada mais reflete o espelho opaco. Você é capaz de concluir que vai sentir mais falta da casa, do lugar, da poltrona ou do seu abajur, do que da pessoa. É capaz de levar a prestação do carro e deixar o carro. Reduz ao mínimo o que é imprescindível, como naquela música do Chico, em que ele sai com a carteira de identidade, o livro do Neruda que ela nunca leu e deixa a chave. O negócio é sair. Você pode criar uns incentivos para ver se a coisa se arrasta: reforma o apartamento, viaja, compra móveis novos, faz o jogo do contente, se entope de trabalho, foge.

Estica o tempo, na tentativa de não magoar o outro, até perceber que está magoando tanto a si mesmo que só falta você dar uma surra diária em si mesmo, para expiar uma culpa por não gostar mais. E lá isso é culpa? Disseram isso pra gente e a gente acreditou? Irreversível o que está instalado: o Sign out.

E pensar que isso serve tanto para empregos, para uma festa chata, para uma reunião insuportável, para uma conversa entediante, quanto para o amor.

Lembro que não falo de certezas, pois você sabe como as raciono, pois são poucas; são somente reflexões, pensamentos mais ou menos soltos, alguns encaixados, outros frouxos.

Um beijo.