Estive lendo uma crônica da Martha Medeiros. Ela é ótima, seu texto excelente e o assunto -- Amores Clandestinos -- de ruim não tem nada. A partir da leitura, invento.
Nota da relatora: Se prepara, pois novela mexicana é pinto diante da minha invenção. Para evitar que você, caro e assíduo leitor, abandone a novela no meio, eu a parti em pedacinhos, pois entendo que ninguém é de ferro. Vamos lá?
Clandestino = feito às ocultas; em segredo. Por quanto se consegue manter em segredo um sentimento que sai pelos poros tal qual o suor, que refresca o corpo do calor interno insuportável?
Tinha que ter uma vez...?
Por que aquela moça se enredou com o cara impossível, um daqueles comprometidos com escolhas do passado e que
assim permanece na inércia que imobiliza qualquer possibilidade? De onde vem essa idéia absurda de que temos a mágica capaz de mudar os outros?
A condição que define o destino das clãs...
O estado civil não seria impecilho para fazer o que era clandestino passar à legalidade; não hoje, com os instrumentos legais, postos disponíveis por aqueles que definem o destino das clãs.
Os Fatos - sua origem, causas e conseqüências.
A história tende a banalizar-se quando o cara gosta da acomodação da vida, que lhe confere toda a liberdade, toda a segurança da roupa lavada, da casa arrumada, de poder ser chato, de não precisar ser sedutor 24 horas, dos bens sem divisão, de nenhum sobressalto em relação àquela vida previsível, sem culpas, sem emoções mais fortes, sem assunto, com uma história de final fechado e que tal qual criança pequena, parece precisar que se repita sempre da mesma forma.
Desse jeito, ele vai muito bem obrigado, com uma paquera aqui, outra ali. Nada que comprometa ou interfira no recinto do seu santo refúgio, repouso do guerreiro.
Lá, onde pode usar suas meias para varizes, a bermuda surrada, o chinelo do Guga, sem vergonha de parecer ridículo e tão pouco a sedutor, deve existir uma esposa, namorada eventual ou que nome tiver. Você viu, não mereceu qualquer comentário ou referência.
Eu, como a relatora, a defino como personagem secundário, figurante sem fala. Ou se tem fala, ela não interessa nem um pouco na nossa narrativa. Eis a vantagem de você ser a relatora de qualquer história. Tal qual o dono da rede de volley, que joga pedra, mas está escalado; se não jogar, não tem jogo.
O céu não está para brigadeiro -- entrou urubu na turbina -- complicou...
Um dia, nosso personagem principal, cheio das falas e das manhas, encontra uma mulher-fêmea. Tinha se esquecido que as coisas podem rolar diferentes. O que foi? Pode ter sido, a beleza dela; digamos aquele choque inicial. Seu corpo talvez. Será? Pode ser, mas até aquele momento o que sabia ele daquele corpo? Nada.
Mas, droga, tinha mais alguma coisa, que fazia ele querer pular em cima dela, no mais impróprio dos lugares. A dificuldade da conquista? Há personagens que adoram escalar sacadas para encostar os olhos em suas amadas. Mas não, ela não era de fazer esse gênero assim tão elocubrado e conquistador. Era comum.
Havia acontecido alguma coisa antes, ele não sabia o que, mas quando a viu pela primeira vez, foi um susto de reconhecimento. Ela era bonita, mas não de causar essa surpresa toda.
Nossa, como dá trabalho não cair em tentação... Ops! como é fácil, corrijo a tempo.
Agora, num céu de brigadeiro ou num mar de almirante -- Os Melhores Momentos.
Aquele ditado "o melhor da festa é esperar por ela" deve ter sido inventado por alguém que adorava o trabalho que elas dão, mas não ligava a mínima para a diversão que elas podem trazer; se duvidar um deprê de carteirinha. Bem, rola papo daqui, gracinhas de lá e, um dia acontece. E ele, como todo personagem principal vaidoso que se preza, quer mostrar serviço, provar-se magnífico.
Ela, simplesmente, se assusta. Não quer provar nada a ninguém. E contar a quem? À sua mãe? Vai dizer-lhe que está enrolada com um cara impossível de ser aquele pretendente que ela sempre sonhara? A moça só quer provar do encontro.Assim, silenciosamente conclui que foi bom, que ótimo, ainda bem, ponto.
Pois então, o susto dela foi um nada diante do dele. Que explosão foi essa que deu/aconteceu por dentro? Pergunta o ex-vencedor e sedutor, totalmente pateta diante dessa força que lhe subiu tal qual um rojão e sobre a qual ele não tem domínio ou o menor controle. Vîu-se de repente naquela mesma gaiola em que se acostumou a ver as suas seduzidas.
Que coisa mais antiga, não é não, essa de cair no próprio alçapão? Estava frágil e ele que pensava que não era, passa dos melhores para os seus piores momentos numa fração de suores, que intermitentemente se intercalam no seu corpo como ondas, ora de calor, ora de frio bem no meio da espinha.
O negócio é que são de planetas diferentes, lembra da história do masculino Marte e da feminina Vênus?
Pois então, dizem que a visão masculina e feminina vêem caminhos diferentes. Taí um negócio que ninguém, é capaz de afirmar, a não ser os animais hermafroditas, caso eles falassem e quisessem se meter nessa polêmica.
Só sei que, como relatora resolvi que nesse momento, as visões se bifurcam. E, apesar das visões diferentes os dois formam a engrenagem perfeita. Se tivesse sido ruim, parava por aí. Como não foi, entra-se no dificilímo livre arbítrio -- a possibilidade de escolher um caminho ou outro ou ainda mais um outro.
Quem disse que escolher livremente é fácil? É ótimo, agora dizer que é fácil? Não é não.
Para ela tudo é natural. Pombas, ele não é o seu homem? Então? Controlar o quê?
Ser mulher é se dar inteira, sem medo de ser e de parecer frágil. No amor, não tem essa de querer ser forte; é o que gira em sua cabeça.
Ainda em sua cabeça e só ali, conclui que, se encontrou o seu homem, quer ficar ao seu lado e sair dos quartos escuros para a luz, para o café da manhã, para a própria casa; sair do conto de fadas e estornar esse amor para a vida real.
Do lado dele, a administração dessa mulher, que não pode ser perdida, tem que considerar algumas das vantagens já conquistadas e que também não podem ser perdidas(?). Todo o marketing investido, o cultivo daquele domínio absoluto sobre a própria vida, tão bem feito...
A platéia em volta não vai acreditar que não era para sempre; que acabou o patrocínio e que não existe mais. Os amigos vão ficar furiosos por terem que optar por um ou pelo outro, enfim por serem desalojados da não-escolha para o tal do livre-arbítrio novamente. Desfez-se um grupo chato, mas já acostumado a essa chatice.
Como é difícil convencer os outros que o amor é lindo, quando eles não amam como você. E, além do mais, ele não chorou uma única vez! O homem que não chora numa hora dessas, ganha o desprezo das mulheres em torno e se enquadra como uma luva na categoria dos sem-qualquer coisa: sensibilidade, caráter...
Eu, como relatora discordo do choro puxado feito samba-enredo só para criar o clima de "está difícil para mim também". Ainda como relatora, acredito naquele olho triste, mesmo seco.
Enfim, nosso herói-vilão, simplesmente um homem apaixonado, não chorou.
Você decide se vale a pena... ter, ler ou ver de novo.
O capítulo final de qualquer uma das histórias desse tipo é o que, quem e quanto cada um aceita perder para ganhar o outro.
A resposta a essa questão algumas vezes se arrasta por anos. Como relatora, não tenho tempo, nem vontade de arriscar um palpite.
Para ser sincera, fui meio leviana, contando isso tudo, sem saber o final e nem tendo a mínima certeza de que precisa de um final.
Aliás, nem sei como anda, e se ainda anda, a história da tal da moça que quando encontrou o seu impossível, ele já estava meio-fechado-meio-aberto com suas escolhas passadas.
Mas, certas coisas não dá para a gente perguntar, não é mesmo? A gente só fica sabendo, quando as pessoas contam ou quando se é uma relatora muito da autoritária que define qual vai ser o final.
Mas quem disse que eu não sou autoritária? Dou o final:
Ele não era um principezinho qualquer, assim com minúscula; era um Homem-Rei ou Rei-Homem, como tantos escondidos sob o disfarce de sapos, só para se protegerem e não deixarem vir à tona a sua condição mais de homem do que de rei -- assim com minúsculas, muito comum e densamente humano.
Pois então, ele está agora nesse momento dizendo lá para a tal da moça que ele é possível sim e impossível seria resistir a tanto amor. O máximo!
Essa não é uma história para céticos ou diabéticos.
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