junho 19, 2001



Conheço uma pessoa...

Muitos também conhecem. Conheci-a em 92. Numa entrevista que não sei nem porque fui fazer, mas cujo resultado mudou muito a minha vida.

Ela foge a qualquer "caixinha" em que costumamos enquadrar as pessoas. Ela é anti-enquadro. Isso é bom e não é. Quem sabe pudéssemos falar numa caixinha de surpresas? Não uma caixa preta, em que só se sabe qual é, depois de acidentes. É surpresa mesmo! A maior delas é que ela se acha completamente previsível. Ledo engano (expressão moderníssima)! Ela também se engana... Mas é interessante conviver com ela. Não é comum. Não é usual. Mas é bom. Ela é engraçada. Eu não diria autêntica, pois o autêntico, na maioria das vezes não tem objetivos. Ela tem. Eles mudam, mas tem. É obstinada, sem ser turrona. É ambiciosa, sem escamotear essa ambição. É amiga e fiel aos amigos.

É interessante. Atualmente esse é um grande elogio que faço a uma pessoa. A gente se conhece bem. Mas não aprofundamos nunca esse conhecer. É sempre um meio-dito. Ela me saca e eu saco também. E a gente se respeita e entende. Sem falar, a gente se entende. Nunca consegui falar profundamente com ela. Não sei se sou eu ou ela quem se esconde. Provavelmente nós duas, até porque nos conhecemos muito.

Durante um tempo no trabalho ela dizia que eu era a âncora dela. Isso é bom e não é. A âncora dá a estabilidade que evita a deriva; mas também fixa alguém em algum lugar, impedindo o movimento.

Em outro momento, eu era a sua pessoa híbrida, pois exercia duas funções antagônicas. Ainda uma outra vez, eu fui chamada de sua co-piloto. Então concluo que essa era a ambivalência que regia a nossa relação.

Agora nós crescemos. Eu não quero mais ajudar a fixar ninguém, e ela já tem a sua própria âncora na bolsa ou no bolso, não importa.

Não sou mais híbrido; sou pluríbrido -- essa palavra eu inventei, mas me serve -- faço tudo o que achar importante. Ela não precisa de co-piloto. Somos ambas pilotos de nossas vidas. Às vezes com algumas aterrissagens forçadas, mas no solo com a maior alegria para chegar lá -- aonde quer que seja esse lá.