junho 30, 2001

"Dize-me, Poeta, que fazes? - Eu Celebro"

escreveu Rilke. Assim, de forma intransitiva, na dispensa de objeto. O celebrar total, completo. E foi o que fizemos ontem -- celebramos! Da forma transitiva mais esquisita, celebramos, no afastamento de um amigo, a sua competência. É bombática essa mistura de dor da saudade antecipada com a necessidade de aproveitar os últimos minutos juntos e se divertir muito e muito.
E, sobrenatural! Encontramos no Rio um lugar em que dez pessoas puderam rir, cantar, beber, dançar, chorar, falar, ser ouvido e comer -- na maior tranquilidade. Manobristas, vista linda, um pianista, lugar não saturado de gente, ótimo serviço. O máximo!

Não sei quem lembra, mas num ano de eleição, dois candidatos disputavam o segundo turno para Presidente. Ganhou o que nem chegou ao fim do mandato. A cidade, no dia seguinte, amanheceu calada, sendo apenas ouvido o barulho do vento que varria das calçadas os últimos panfletos eleitorais, que como que numa premonição, quisesse nos fazer esquecer.

Hoje não havia o vento, pois não há vento que varra o que está no coração da gente. Só senti o silêncio. Amanhã melhora. Cada dia melhor -- não é o que me diz o celular? Será que devo mudar a frase e escrever uma ainda mais otimista? Amanhã penso nisso.