outubro 24, 2003

Hoje, numa folga inusitada, saí para andar às quatro horas da tarde linda de primavera. E como tive companhia de gente que parece ter tido a mesma folga: pescadores sem peixe, só com vara; empregados de companhias que vêm descansar aqui na Urca; alunos que saíram mais cedo da escola e brincavam de esperar o ônibus; um carro de polícia, parado num ponto de calmaria estratégica; guarda-vidas que conversavam sob as amendoeiras; trabalhando mesmo só os pescadores de profissão que costuravam as suas redes na praia.

Me deu a impressão de ter sido decretado um horário de relaxamento e de descanso, num protesto não verbalizado contra os dias chuvosos, úmidos e frios que vinham marcando o nosso cenário. Eu acho o máximo perceber como as pessoas, mesmo sem combinarem, tomam atitudes semelhantes e reagem da mesma forma às ações da natureza. Estou meio piegas... mas é o efeito do balanço da rede.

outubro 20, 2003

O primeiro dos nós:

Então desatar o nó para quê? Afinal, os fios enquanto formam o laço estão na sua amplidão máxima, pura extensão do tônus para garantir o ato de firmar.

O ex-nó:

O que passam a ser quando desatados? Nada. Fios retorcidos, esgarçados, sem função ou serventia -- lixo, não orgânico e não-reciclável.

O desatar do nó:

E você, após desatar o nó? Mais feliz, com esse monte de fios inúteis? E o que estava frouxo, desaguou de vez? Pois bem, se desandou, se é para ser frouxo mesmo, se é para viver 50% do que merece -- você faz bem em desatá-lo, afinal, garantir tão pouco, não precisa de nó -- nem bainha, nem alinhavo, nem nada. Não carece de gastar linha.

Hoje foi meu dia de feriado. Olha só, até isso mudou na minha vida, pois o meu feriado sempre foi o Dia do Professor; de repente, virei comerciária, apesar de, pessoalmente não vender nada.

Aproveitando o feriado ganho indevidamente, resolvi reunir a única tia que restou da parte da minha mãe, a irmã e mais outros tantos que engrossaram a lista. A tia veio fazer uma rabada com agrião e eu fiz a polenta. Uma refeição leve, que só dá para comer em dia de feriado, pois a leseira que vem depois é enorme.

E falamos da minha mãe com carinho e com saudade; já agora sem tristeza.

Puro egoísmo, mas certas horas, precisamos das nossas raízes avivadas, regadas; acho que isso é o que se chama de voltar ao ninho. Aconchego que te dá força para continuar sendo adulto, para ter a força que os outros vêm procurar em você e que às vezes falta. A coragem para ter paciência, para equilibrar o esperar com o viver, sem deixar a balança pesar mais para o primeiro do que para o segundo.

outubro 14, 2003

Hoje visitei o meu blog. Revisitei as experiências coletivas, as pessoas no Espelho e fiquei pensando nos rumos que a vida toma. Nunca pensei em ter um blog; para falar a verdade, nem sabia o que era isso. Vivi o meu intensamente. Escrevi um livro, baseado em muita coisa escrita aqui. O livro foi aprovado pelo Minc e está em fase de esperar pela minha disposição de buscar patrocínio.
Hoje, quase não escrevo aqui, a boneca do livro está linda, mas parada na estante. Enfim, por 1 ano o fogo ardeu e deu frutos. Fiz amigos; bons amigos. Aprendi a me expor; a organizar melhor as minhas idéias e, sabe um outro ganho, aprendi a me desprender de algo conquistado.
Meu foco agora está nas brechas, de onde espio a vida que eu vou ter!

outubro 09, 2003

Do meu auto-retrato deveria constar dois olhos grandes, uma boca com o lábio superior levemente mais para fora do que o de baixo, um nariz reto, comum e duas orelhas enormes, que representariam, figurativamente, um dos meus papéis nesse mundo. Pois eu nunca vi, tendência maior do que essa minha de ser o "ouvido" dos outros. Tudo bem; ouço numa boa...; só uma perguntinha: onde anda aquele que se candidata a ser o "meu ouvido"? Isso é o que dá você ser bem analisada. Vira o ouvido de si mesma; mas que às faz uma falta alguém que te ouça... ah! isso faz!

outubro 08, 2003

Vale a pena dar uma olhada nesse blog sempre ótimo!
Chuva, chuva e mais chuva! Vontade de ficar em casa, sob as cobertas, curtindo a falta de vontade!

outubro 07, 2003

O que eu quero é o que preciso. Parece óbvio? Pois não é. Tem gente que não entende.
Tsc, tsc,tsc...Gente homem mais tonto...

De que adianta se ter metade de um coração, se a mente mente para outra parte e diz para a parte tonta de amor que assim não pode, que assim não dá?

Essa mente mentirosa de verdades racionais não quer ver, de verdade, nada das verdades do coração.

O outro coração, inteiro e sem divisão, rejeita metades,

pois sabe que a metade, mesma que inteira está longe de ser o todo.

O todo é acordar, acarinhar, ir andar, ouvir que a camisa está amarrotada, visitar a mãe doente, acarinhar outra vez; viver inteiramente junto, sem metade, de verdade, sem meias verdades.

E aí?

- Ficamos combinadíssimos assim: vamos dar o salto juntos!

Nada de eu saltar sozinha. Carreira solo, não está nem nunca esteve em meus planos e você sabe disso muito bem, disse a mocinha para o mocinho.

outubro 04, 2003

Hoje, sábado, fazendo uma palestra em São Paulo caiu a ficha! As informações absolutamente inúteis que a escola nos fazia decorar: os rios da margem esquerda e direita do Rio Amazonas, os ossos do corpo humano (os quais muitos hoje ganharam outros nomes), países e capitais (muitos hoje desdobrados em outros, tornados independentes) na verdade, eram um ensaio dos bancos de dados atuais; só que humanos.

Era a valorização do armazenamento e não da utilidade que a informação poderia trazer ao seu proprietário.

O que vemos hoje é a ênfase da informação direcionada a um produto ou a uma ação produtiva. A dificuldade está em encontrarmos o ideal do meio termo para a memorização.

Tabuada? Ainda é mais rápida do que a calculadora, nem sempre a mão.

Número de telefone? Estão aí os próprios aparelhos que os registram. É claro que se você perder o celular, não será capaz de falar com ninguém por um tempo.

E aí entendi o processo de exclusão que atingiu tantas pessoas que não deram o salto e permaneceram valorizando a informação pela informação e passaram a ser consultadas como banco de dados, respondendo, quando acessadas.

Chega a ser perverso esse processo que passa como um raio trator e que atende pelo nome de transformação, progresso, evolução.

Mas, não me leve a sério; pois isso é consequência de trabalhar no sábado!

outubro 03, 2003

Retornei ao tempo de hoje e me dei conta que o ano já está acabando; atá já me falaram em Natal! Fiquei chocada! Mas não é que já estamos chegando lá? Antes que acabe, ainda tenho umas coisinhas para fazer. É tarde! É tarde!, como diria o Coelho. Aliás se esse Coelho fosse um personagem moderno, não seria tão atual. A nossa neura de tempo, ultrapassa em muito a aflição do animalzinho.