novembro 29, 2002

Esponjar

Eu tenho uma predileção muito especial pelas palavras começadas por es. Esponjar, ouvi hoje de uma amiga que, comentando alguma coisa que eu escrevi, disse-me que tentou esponjar as minhas imagens. Achei muito bonito isso, apesar de não acreditar que ela tenha conseguido, por conta da confusão e não-linearidade, contida nas minhas escritas. A palavra, todavia, ficou por aqui... E me fez ver quantas vezes me fazem ou me tomam por esponja. De repente, eu sou mesmo uma esponja. Algumas vezes, uma esponja que consente e se deixa sugar com o maior prazer. É a entrega especial que se dá algumas vezes. Outras vezes, sou a esponja não-consentida, que reage à tentativa de sucção, pois que parecem querer a alma da gente. Sugadores de plantão há aos montes. Num dos livros do Harry Potter há uma prisão, cujos guardas, os dementadores, são temidos por sugarem a alma das pessoas. No livro, a alma é a vontade; é o livre-pensar. Terrível isso que acontece também fora das prisões inventadas nas histórias.

Esponjar, especial, escapar, espírito, esperar, espreitar, escamotear. Extrapolar é com ex, mas bem que podia ser com es, pois um tanto que eu gosto dessa também.

Ganhamos um espelho novo!

Na verdade um presentão da Claudia que não aguentava mais a figura antiga. Um espelho de água, que reflete um barco vermelho. Barco vermelho é demais, não é não?

E tem gente nova bonita no barco-espelho.

novembro 27, 2002

Eita capricórnio!

Sei que muitos não acreditam em horóscopos. Paciência. Eu acredito e as pessoas olham admiradas para a mulher segura, analisada -- que adora ser sugestionada pelas boas novas das leituras astrológicas. Apesar da desconfiança de alguns, sempre que estou insegura, consulto os astros. Como pode concluir, é bem frequente o meu contato com os horóscopos da vida. Mas vamos a minha descrição do que é ser capricorniano. É o signo da persistência. E haja paciência, já agora pela terceira vez, para tanta persistência. Em parte essa característica se dá porque os da casa não querem nada pequeno: eles querem; querem bem e muito. São uns loucos conscientes das loucuras dos seus desejos. A loucura talvez seja traduzida pela não desistência. Outras vezes, as coisas acontecem tão magicamente, que chega a ser uma sujeira com os do signo. Pois vê, você luta, luta e quando consegue o prazer já foi se diluindo tanto ao longo da luta; mas assim mesmo, você abre o champagne. Aí vem a outra vitória que acontece num abrir, sem tempo de fechar o olho e você fica falando para você mesma: droga, por que não é sempre assim? De qualquer forma, abre o champagne também. Aí aparece a condição do capricorniano que mais gosto: comemora sempre, seja a dor, ainda que dramaticamente; seja a conquistinha. Mesmo que seja quase sempre numa festinha privada, a festa rola solta. Pronto, cansei. Onde será que anda a minha persistência? Paciência (já agora pela quarta vez); mudei.

novembro 24, 2002

Escrevo.

E na minha cabeça rodopiam idéias que maçantemente vão e voltam. Está na "crista da onda" (expressão novíssima) a minha face-mulher-corajosa-consciente e certa do tempo e da hora. Nesse momento não há coluna da esquerda, direita e centro; há uma só coluna, aquela da privação dos sentidos outros, deixando de ponta apenas aquele que é o da hora. E as perguntas ficam pra depois. As dúvidas viram a pergunta: que dúvidas? Amanhã eu penso nelas. Agora o foco está dirigido para o pensamento que se faz ato (senti uma vontade de escrever acto; achei que daria mais ênfase). O máximo!

Eles escreveram.

Encontrei-os também pela tal da andada do final de semana. Sempre encontro nas letras deles, o que queria dizer e, muitas vezes, queria ouvir. Divido com você.


Renato Motta: "Recife - Praça Oswaldo Cruz com suas frondosas mangueiras carregadas e o estampido de uma fruta no chão é o convite para selecionar qual destas vou chupar. No ato de descascar aquela manga com os dentes o aroma da polpa e o doce sabor em pequenos fios - os fiapos da fruta teceram nas minhas lembranças da infância que tive: O natal."


Claudio: "Deus sabe o que faz.O homem não é Deus."


Cristiano Dias: "E de repente eu não sinto mais saudades de morar em NYC."


Neodo N. Dias Jr.: "Diferenças sociais, desiguladades, Terceiro Mundo, Segundo ou Primeir? Os excluídos existem?? Ainda daquele post de 15 de novembro... "
"Encontrei a música que adoro.. "Sobre o Tempo".. do Pato Fú.. vai abaixo a cifra e a letra.."



JT: O olho atento /
atrás das lentes /
regula o ângulo /
que refaz o espaço /
enquadra o alvo /
pra ajustar o foco /
e comanda o clique /
que eterniza o átimo /
que a máquina capta.



Carpe Diem: "Hora de deitar no divã.(...)"


Matchbox: "Cutucão no peito: Do contrário você não será bem atendido por lá. via let's bloggar


Gilberto: "Isto pode ser felicidade, o brilho no céu por entre as nuvens. A água que se infiltra na terra e vai cavando cavernas. Largas e profundas . Minha amiga, meu amor, exalando o perfume do seu ser e eu sentindo no amadurecer dessa idade que, queira o supremo, seja a pura expressão do tempo. Tempo cio. Que nos alicie! Tempo água. Que nos acaricie! Tempo coito. Que nos delicie! Tempo tempo. Tempo... Tempo."


Rogerio: "últimas notícias:
o mundo acabou ontem. pronto! acho que só estava faltando uma data, agora é oficial. devo confessar que também acho um pouco arrogante de minha parte dizer isso assim, sem ter sido antes noticiado pela Fátima Bernardes no Jornal Nacional, mas alguém precisava tomar a iniciativa.
tudo bem, não se preocupe! se você não está queimando no inferno, nem cercado de anjos no céu, é muito simples: você foi esquecido. era previsível, sua vida foi absolutamente insignificante, suas moedas e questionamentos não salvaram ninguém e suas pequenas verdades ou mentiras não foram dignas de um julgamento final... acho mesmo, que nem o Diabo te aceitou! por outro lado, a partir de hoje você pode fazer o que bem entender! pode continuar perdendo o seu sono preocupado com a camada de ozônio, ler essas teorias inúteis que te fazem companhia, fingir amar enquanto em silêncio amaldiçoa seus dias, (...)"


Raulzito: "Passando em branco.
"Eu estou muito cansado do peso da minha cabeça..."


Marcus: "Essa é a transcrição de uma conversa surreal que eu tive ontem com o suporte técnico (...)"

"Bem, no texto anterior, quando eu disse que ficamos fazendo bichinhos de sombra, não queria dizer que eu realmente fiiiiiz bichinhos de sombra. Na verdade consegui fazer apenas um pombo (óbvio) e um bicho com 2 bocas, que pretendia ser um cachorro. O resto foi arte abstrata e aberrações da natureza. (...)


Editor "23 de Novembro - Hoje não é dia de nada. Está vago para alguém acrescentar o dia de alguma coisa."

novembro 23, 2002

Elas escreveram.

Retomei o circuito blogueiro; para falar a verdade, integrei-o às andadas diárias. Encontrei as amigas nessa andança virtual; soube delas, sem vê-las; só pelas palavras. Divido com você os pedaços que recolhi.

Carolina Porto: "Perdemos mais 36 fotos. Será possivel que vamos embora sem fotografias para mostrar aos nossos netos?"


Claudia Letti: " (...) Mas como assim, "nessa faixa etária"?? Mamãe, eu ainda não fiz 40, lembra!? - o que me remete ao ano passado, quando ela ficou em estado de choque porque lhe lembrei que eu já tinha passado dos 30... Essa é minha mãe."


Juliana: "Há um pôr-do-sol em mim.
Sei que exagerei, mas viver é sempre um exagero, né mesmo?!"


Rachel Kizirian: "(...) Posso mudar de idéia num segundo, posso teclar delete e apagar tudo, posso salvar, fazer mudanças, posso parar por um momento, ler, reler, me ater ao que quero para que as idéias fluam, para que minha personagem tome vida, ou quem sabe, novas idéias e definições surgirem em minha cabeça. Quando alguns dormem, estou eu aqui. Eu e a tela do computador."



Cassia: "(...) Desde quando os segredos não são mais segredos?



Ana: "(...) Nunca temer o imponderável."



Estrelinha: "(...) Ando recolhida, sei um pouco dos por quês. Mal tenho respondido emails, ou telefonado. Mas é final de arrumação, quase lá. Pra estar pronta pra bagunçar tudo de novo. E recomeçar, sempre. Como criança que guarda os brinquedos pro dia seguinte.



Margarida: "formamos uma rede de idéias, pensamentos, sentimentos...escrevendo estamos rompendo, de certo modo, a barreira da distância e nos tornando próximos...coisa boa...


Ana Maria Gonçalves: "(...) Ai, que solidão! Ninguém me visita ...


Maria Elisa Guimarães: "Boa semana a todos.
Aliás esta semana promete:-) Muitos eventos no Rio e em São Paulo.


Carolina Sarmento Bonates: (...) "Eu fui para esse negócio do volley só para ficar morrendo de vontade de jogar... caramba! eu não consigo ver uma bola de volley e ficar sem jogar não... putz! Graças ao Nosso bom Deus, este vestiba está chegando, se Deus quiser eu passo e volto a treinar... é tudo que eu mais quero! torçam por mim viu?"


Adriana: "(...) Não há criação possivel em tal estado, porque é preciso estar em graça ou em dor para criar. E a irritação é o avesso de ambas. E a não aceitação do óbvio. É a luta inglória... Toda irritação é infértil.(...)"


Rossana Bocca Fischer: "(...) minha mãe sempre conta histórias da juventude dela, de 50 anos atrás. vou tentar colocar algumas aqui. vou pedir pra ela fazer polenta." "certas coisas demoram tempo demais para mudar."


Fernanda Guimarães Rosa: "(...) Eu não sei fazer a contagem da comemoração do Thanksgiving. Só sei que cada ano caí num dia diferente, sempre no final de novembro. Mas neste ano vai ser super tarde, no dia 28! (...) Claro que ainda não pensei em nada, vou deixar tudo pro último minuto, como é a minha tradição de festas.


Marta Medeiros: "(...)Apesar de não termos mais 15 anos e estarmos numa idade em que os outros acreditam que o nosso coração envelheceu, continuamos amando.


(...)Apesar da chuva que não permite o passeio de mãos dadas, do espaço compartilhado que não permite privacidade, da desaprovação dos que nada têm a ver com o assunto, continuamos amando."


Debora: "(...) ninguém TEM QUE nada."



Fernanda Goulart: "(...) O olho feliz vê que o universo depende de cada um, algumas certezas podem ser perpétuas por um instante, o passado é página virada, as brigas passam e que os erros sempre acontecem."


Ana: "(...) E mesmo que eu não entenda bem o sentido disso tudo, que eu nem saiba o porquê de estar aqui dando a cara a tapa, não posso negar o carinho que tenho por esse espaço. Ele é meu, sim. Mas, se eu aprendi alguma coisa real aqui, é que não quero nem posso viver sozinha. O blog é meu, o divã é nosso.



Zel: "(...) é uma dor que arde e não tem orifício pra purgar, não. queima devagar os orgãos internos, um vazio se avolumando (eu tinha um coração aqui dentro, juro) (...)"


Jeanne Moreau "A idade não protege contra o amor. Mas o amor, em certa medida, protege contra a idade."

novembro 22, 2002

Acabei a faxina; tirei o pano da cabeça; encontrei muita coisa nas gavetas da vida, que pensava perdidas.
Livro. Livre. Me livro. Deus me livre. Assim juntas, dá bem para ver o medo que a liberdade traz: das escolhas, das decisões, do livre arbítrio. Deve ser por isso que tanta gente opta pelo conhecido, pelo todo dia fazer tudo igual.
Poderia colocar um anúncio de uma casa em que um passarinho canta, invariavelmente às 6 da manhã; onde se escuta um navio que apita, pedindo passagem e onde o cheiro do mar invade o ar, ao se abrir as janelas. Isso é o mais importante a falar sobre a minha casa.

novembro 16, 2002


Dá para ver que estou arrumando as gavetas?

     

Mãos que afagam, pés que acariam; nos que amam, como falam, conversam, tagarelam e gritam o que vai no coração .

Quem Onde Quando
Muito prazer, gente nova bonita no espelho!
O prazer que se esconde numa fila.

Que brasileiro exerce toda a sua civilidade numa fila, não tenho dúvida. Povo desenvolvido faz fila. Ouvimos isso e dá-lhe fila. E ai de quem tentar furar uma. É execrado, xingado, aliás tem muito abusado mesmo. O clamor popular diante de um fura fila não se repete diante de outros tantos desmandos que a gente vê por aí. Mas filas são sagradas!

Gostamos tanto de fila que há umas que se antecipam aos serviços, então é comum fila nos bancos antes do expediente; fila nos shoppings antes deles abrirem. Fila é sucesso! Contar que ficou na fila é assunto e assunto é o que não falta nelas. Vidas inteiras desfilam até o atendimento. Fila única, importada dos States, labirinto que se enrosca e faz você não saber onde entra, muito menos onde sai. Muito moderno esse negócio de fila. Ops! É a minha vez!

Sábado-shopping

Mais precisamente aquele cheio das escadas, um escada-shopping. Fui comprar um biquini novo; o resto da população que estava lá não sei o que comprou. E, como sempre acontece, me irrito com a experiência das moças que vendem. Dão uma olhada em você e te dão a parte da baixo maior do que a de cima. Preciso fazer regime rápido e diminuir a de baixo.

@joyce conta como vai colorindo a sua vida

É assim que um desses sites de busca descreve o pedacinho aqui. Então tá: digamos que hoje está cor de salmão descongelado. Melhor essa do que cinza ou ainda preto.

novembro 15, 2002

Fala sério! Que notícias mais estranhas as desse mês de novembro!
Você já se cadastrou no diretório de blogs do Edney? Dá uma conferida na coluna da direita, na sessão +blogs, clique em "coloque seu blog aqui" e atualize o seu.

novembro 14, 2002

O meu solidário (com a minha amiga de alma, eu mesma) fim de semana em Natal pode ser traduzido pela total posse do controle remoto da tv. Daí concluo que o controle remoto é o ícone do poder doméstico feminino. Me diz se não é verdade?
Soltos por aí

Quando era adolescente e me preparava para o vestibular, entre livros, cadernos e folhas soltas, ia para a janela; olhava a obra que corria solta no meio da rua e invejava aqueles homens que trabalhavam, sem ter que estudar e ter um vestibular pela frente. Nos dezessete, com toda a onipotência de ter o mundo girando em torno do meu umbigo, pouco me dava conta do absurdo que era tal pensamento. Estudar, viver a tensão era o mundo que eu não queria.

Muitos anos depois, esperando o primeiro filho, sonhava e invejava quem podia dormir de bruços, impossibilidade momentânea da gravidez.

Meses depois, com o filho já nascido, sonhava com as noites inteiras de sono, naquele momento, interrompidas com o choro noturno, que picotava a noite e o sono da recém-mãe.

Hoje ainda guardo uma certa admiração pelas amigas simples, descomplicadas, que são felizes com o que têm e desvalorizam ou não se dão conta do que não têm. Assim, posso imaginá-las, fazendo o programa de amanhã, dividido entre a feira, o almoço, a televisão e quem sabe no domingo, assistir ao show do Roberto Carlos lá no Aterro.

Não é que eu não me ache comum; acontece que acho cada vez mais difícil ser comum. Queria ser menos exigente, menos sonhadora e mais complacente com a tal da felicidade.

Dá espaço para a brecha da vida, a única em que rola uma vida de verdade
Mais uma brecha, por favor, para receber esses olhos voltados para nós


E podemos pensar que os olhos manipulam as imagens, da mesma forma como manipulamos as palavras.

novembro 13, 2002

Uma brecha...

para o presente da Adriana, que ganha lugar cativo à direita, aqui nesse espacinho.


novembro 12, 2002

Roubo só um pouquinho da inspiração de

"Existe somente uma idade para a gente ser feliz.

Fase dourada em que se pode criar e recriar a vida

à imagem e semelhança dos nossos desejos.

Essa idade tão especial e tão única chama-se presente...

E tem apenas a duração do instante que passa."

[Mário Quintana]

E como é que dá para ser feliz, se mudo a cada instante, criando metas, alvos e marcos novos, com a mesma velocidade com que os atinjo? Num momento quero escancarar sentimentos; depois passo a procurar o freio, a fim de acertar a minha velocidade ao timing alheio. O resto do tempo, me pergunto: quantas vezes lancei minha rede hoje? em busca da tal felicidade? E quer saber? Aí está a felicidade, pelo menos em uma de suas manifestações: na vontade de correr em busca dela; em gozá-la, quando se realiza; em renová-la, quando amorna; em pegar o telefone e ligar, quando se afasta.




novembro 11, 2002

Pronto!

Voltei para casa, ainda com a expressão "pronto" nos ouvidos. É uma expressão que serve para tudo: para dizer que está bem; que sabe que você tem razão e para anunciar os próximos passos. Pronto! E vamos tentar nova adaptação, após quatro dias de puro paraíso.

novembro 08, 2002

Nao caminho; ando.

Nao transpiro; suo.

Nao sinto aroma; sinto cheiro.

Diretamente de um computador em Natal, que nao da a minima para acentos; e pra que com esse sol todo?

novembro 03, 2002

E a camisa amarela?

"Vestiu uma camisa amarela e saiu por aí"; a história podia começar assim.

Acordou, no dia seguinte ao seu aniversário e ia para a praia. Lembrou-se antes, de pegar o telefone do homem que consertava o fogão, a fim de marcar uma visita dele às bocas de fogo, em permanente férias e ver se assim a mulher o deixava em paz, parando de reclamar. Ao procurar sobre a mesinha, encontra um recibo da compra de um relógio, feita no dia de seu aniversário. Um daqueles de mergulho. Mas como? Não mergulha. Não ganhara presente, não dos da casa. Caiu a ficha dolorosamente e com estardalhaço tal que o fez sentar-se no chão e não chorar. Não chorou aquele choro das lágrimas; só ele soube do seu pranto.

Tanto barulho fez com que ouvisse os sinais, que agora descobertos, estavam ali evidentes para quem quisesse ver ou ler. Ligações interrompidas, saídas repentinas, aqueles sinais comuns de quem quer fugir. Solução primeira: "rodar a baiana" e fez isso com todo o talento que move os ofendidos. Solução segunda: a reconquista.

O resultado foi a capitulação, o "amor" de volta. Sabe-se lá o porquê, mas a volta revelou um desrespeito, uma descrença tão grande, que se ela não tivesse voltado, talvez ficasse o rancor por ter sido traído, mas persistiria a admiração pela mulher, que luta por um amor, por sua crença. Sabe que a permanência não teve a ver necessariamente com ele e sim com o que havia sido construído material e afetivamente: casa, flhos, família e essas coisas.

Mas, a camisa amarela, quando foi que ele começou a usar? Logo depois que percebeu que vivia uma situação colada num sonho, um remendo do que quisera e que não queria mais. O que se faz numa hora dessas? Vai se provar a si mesmo que é homem, macho. E mostrar que também pode. Uma carta de alforria que o liberta da correntes de flores, que de tão bonita, ninguém quer ser o vilão que vem e a desmancha. Cuidar da alma e do corpo: liberdade, igualdade; faltou a tal da fraternidade.

Ainda tem gente que diz que as histórias do Nelson Rodrigues são inventadas e que homem não chora. Não chora pouco.

Brigadeiro

Você quer comer brigadeiro. Então, abre uma lata de leite Moça, coloca uma colher de sopa de manteiga, coloca a quantidade de chocolate em pó Nestlé, dissolve o chocolate, que sempre fica embolotado e leva ao fogo. Mexe, mexe, mexe e, aos poucos vai sentindo o cheirinho que antecipa o prazer tão esperado. Mexe, mexe, até ele começar a desgrudar da panela, ganhando a força, a consistência, a cor e a vida própria de um brigadeiro. Aí então, você deixa esfriar e quando frio, pode comer às colheradas ou enrolar, passar no açúcar ou no chocolate granulado e colocar nas forminhas. Finalmente, está pronto! Aí você olha e pensa, reflete e se pergunta: Acho que não vou comer... Eu não preciso... Só pra engordar?

Aí me veio à cabeça os inúmeros passos que a gente dá para concluir que é bom e ao concuir que é bom desiste. "Se morre", não é não?

Agora, sério, se bem que atrasadíssima...Carlos Drummond de Andrade

A boca beijada não guarda marca de seu êxtase; ele fica na mente de quem a beijou.
Há um tempão que não conto das minhas combinações gastronômicas.

Relembro que mando no espacinho e, portanto, mesmo que você não queira saber, eu conto. Comida a quilo é pinto, diante do cardápio do dia. Peru (É Natal!, sem a Simone cantando aquela chatice de música, que na minha opinião acabou com ela); farofa molhada de miúdos do próprio; salpicão de frango com batata palha, petit-pois e passas; bobó de camarão com arroz e para terminar, um tira-gosto: conserva de beringela. Nem a comida a quilo me barra! haha.

Há um tempão que eu não pergunto:

Aí na sua casa tem alguém que deixa pasta de dente grudada na pia?

Aqui tem.

novembro 02, 2002

Morno que não te gosto morno

Pois assim foi o feriado, o dia e eu. O dia ainda se animou mais e à tarde, após longas negociações, o sol venceu e apareceu por aqui. Foi um dia silencioso, como que ciente de que hoje é para se falar baixo, sentir quieto a saudade dos que não estão por perto. Engraçado isso, há uma saudade que é para sempre; há outras que estão por aqui, por enquanto e que logo vamos acabar com ela no próximo encontro. É claro que ela vai crescer, por geração espontânea novamente; vamos matá-la também novamente; num mito de um Sísifo amoroso. Bem dentro do espírito e do clima do dia, caiu nas minhas mãos, o cd de um amigo de infância - Arthur Verocai - Saudades Demais. Sabe aquela música que você pode ouvir a qualquer hora? Pois então, é assim!

Acompanhar a passagem dos dias, valorizando o tempo da vida. Isso, com música, certo?

novembro 01, 2002

Nosaaaaaaaaaaaaa!

Pois então, fiquei tão contente e surpresa quanto vocês devem ter ficado com essa casa nova. Fala sério se não está linda? Você reparou que o que é vermelho paixão vira azul paz e o que é azul paz vira vermelho paixão? Basta ser um vínculo com alguma coisa e pronto: pula da paixão para a paz e da paz para a paixão com a mesma não-linearidade que me guia nas brechas dessa vida. Não tenho noção de como é que um salto desses acontece nas tecnologias.

Nossa casa está clean e viva, irretocável como os escritos dos autores. Pois os dois amigaços, entraram aqui, fizeram a festa e me convidaram; não é o máximo ter amigos assim? E pensar que se eu não tivesse enveredado por esse mundo dos blogs eu não os teria conhecido. Não posso nem imaginar uma perda dessas. Eles, os amigos, são o Rogerio e a Claudia. Ele lá no RS e ela, aqui no Rio, eliminaram barreiras e criaram a ponte e levaram tempo desenhando as pipas, ajeitando aqui e ali e eu, em casa, dormindo, lépida e fagueira.

Ele é um dos meus favoritos; o que não usa letras maiúsculas e nos leva a concluir que elas não fazem a menor falta; que adora as vírgulas e de quem eu roubei uns tantos escritos, pois "se for 40 graus, tem que ser o Rio de Janeiro", como ele diz. É aquele que abre a porta, que chama de lateral, para fugir da principal, de repente porque a principal fecha às 10 e a lateral está sempre aberta. Me ensina o que não aprendi, com a simplicidade dos que sabem.

Ela é a amiga que está agora do lado direito, que antes estava do lado esquerdo desse espacinho, mas nunca saiu daqui. Foi a segunda pessoa que eu conheci nesse admirável mundo novo e virtual. Ela fala das brechas, do espia e me delicia, "porque eu mereço". Escreve muito com poucas palavras. E quanto menos palavras mais emoção contida ou incontida. É daquelas amigas que abre a casa; recebe os amigos; parece não valorizar o que sabe e nossa! como sabe; sai de cena, se a vaidade do outro é maior e precisa aparecer -- uma deusa muito na dela.

Enfim, digamos que uma deusa e uma porta lateral nos deram esse cenário, onde ganhamos várias pipas. Uma se liga a outra que se liga a outra e por aí vai. Como a nossa vida. Como nossos amigos. Como nossos pensamentos. São elos que nos levam onde quer que queiramos ir, por uma porta lateral, cada um, buscando seus deuses e deusas. O máximo esses amigos e a nossa casa linda!

Ops! esqueci do principal: Obrigada!