dezembro 28, 2002

Os cinéfilos que me perdôem...

mas vou falar, sem qualquer propriedade sobre um filme qua assisti ontem; tentei desisitir de ir até o fim muitas vezes, mas assisti todo. Era italiano, branco e preto ou melhor, preto e branco, bem escuro, durante a guerra, sem ação, pobre, mas com uma mensagem extraordinariamente simples e crua. Não sei o nome. Era com a Sophia Loren e o Marcello Mastroianni. Não vou contar, pois o filme é longo. Ele era homossexual e ela uma italiana dona de casa, cheia de filhos, com um marido que achava que ela não fazia nada, cuidando da casa. Pelo pouco que eu vi, era uma personagem completamente secundária. Lá pelas tantas, ela seduz ele, o Marcello e se descobre mulher, com um parceiro que se mantém imóvel, como numa relação com ela mesma. Para ele nada mudou, ele diz. Ela revela a imensa descoberta que acabara de fazer sobre o que era uma relação de prazer. Ato seguinte, ele vai embora, pois é um dissidente da guerra e ela assiste a sua partida da janela, já noite alta. O marido a chama no quarto, ela desliga o fogão e se dirige ao quarto. Fim. Então, fiquei pensando em quantas mudanças profundas ocorrem na vida e e que ficam esmagadas, esprimidas pela falta de brechas, que as deixem respirar e passam a existir como uma planta esquisita que se alimenta e sobrevive de lembranças. Muito triste.

Fora virose mal-vinda!

Tudo bem, sei que tem gente que adora uma doencinha leve; nada grave. Conheço uma pessoa (e devem haver muitas), que usa dessas mazelinhas no seu show eternamente em cartaz, para prender o marido, ganhar atenção; isso porque se pendurar no lustre da sala não dá mais para fazer na idade dela.

Mas definitivamente não é o meu caso. Anulo, nego, chuto o balde e, finalmente, muito a contragosto vou ao médico. Isso depois de uma garganta que não servia mais para engolir nada, um ouvido que resolveu batucar feito um tambor e que quando cansou do batuque resolveu entupir. Passei a ouvir as coisas lllllllooooooonnnnnnngggggeeeeee! Parecia que estava num vôo, naquela hora que o ouvido fecha. Só que no vôo, ela abre e em terra manteve-se oco. Uma chatice chamada otite.

A médica me receitou antibiótico por 10 dias o que me faz crer que seja alguma coisa gravíssima. Aliás, tive essa certeza ao ler a bula do remédio. Fala sério? Você já leu bula de remédio? Se você estava mal, ficará péssima! Mas, apesar dessa orquestração toda para me fazer crer que essa otite estava com tudo, vou acabando com ela e não a aceito por mais de dois dias, se tanto!

Enfim, apesar desse desastre virótico, mas não transmissível e ainda meia oca, fui visitar a minha mãe que agora está numa clínica, muito bem obrigada. Tão bem, que invariavelmente pergunta quando nós vamos embora. Hoje nosso encontro foi no jardim. Ela com a sua babá (enfermeira), as filhas, as netas e um dos bisnetos. Reclamou que não come nada salgado...salaminho, por exemplo! Aos 89 anos, reclamar da falta de salaminho não é para qualquer um.

E pensar que adiamos tanto essa decisão de colocá-la numa clínica, nos remoendo em culpas, baseadas em reportagens sobre idosos abandonados, que contaram para nós e nós acreditamos.

A dificuldade dessa história é você entender que a qualidade de vida, a aspiração da gente muda com a idade. E temos a tendência a conceituar qualidade de vida do ângulo da nossa idade. Então queremos encaixar a mãe idosa, naquilo que é importante para nós ou no que definimos que ela deveria gostar de fazer aos 89 anos. Mas, péra aí, se eu não sou ela e não tenho 89 anos, como é que eu posso definir isso? Penso que como as filhas são mais jovens tomam o autoritário papel de mãe da mãe e, tal qual pusemos um dia casaco nos nossos filhos, quando nós sentimos frio, repetimos com a nossa mãe os mesmos enganos. A máxima dos negócios vale para cá também. Tem que ser bom negócio para todas as partes envolvidas. A família tem que dar uma remexida e aceitar o idoso como parte dela, como ele é hoje e não tratando-o como ele foi um dia, pois dessa forma serão inevitáveis os desapontamentos. E se você está de peito aberto irá se surpreender com um bom humor irônico, certas observações sábias, ao lado de períodos de confusão mental.

Antes de decidirmos sobre a clínica tentamos animá-la com vários recursos: escrever cartas, fazer contas, palavras cruzadas, bordar, televisão, rádio de cabeceira, walkman -- nada! Aí você começa a brigar com a falta de vontada da sua mãe; se pergunta cadê aquela pessoa disposta que nos ajudou a criar os filhos; você não a reconhece mais, na sua falta de vontade, na ausência de qualquer desejo além de dormir e de comer. Ela precisava de alguém que estivesse disponível para ajudá-la, para cuidar dela; para levá-la para passear; enfim, como ela dizia: uma babá.

E aí decidimos pela clínica e sabe por que acho que acertamos? Porque ela encontrou a Arlese que ela é e, a partir daí, nós a reconhecemos também. Ela está satisfeita, pois tem uma "babá" à mão; uma companheira de quarto e ambas se ajudam; seus brincos ressurgiram de onde estavam esquecidos; tem fisioterapia duas vezes por semana; tem festa e temos nós, que vamos visitá-la com prazer, levando o tal do salaminho, na próxima vez.

dezembro 26, 2002

E não é que aquele que pode ser lido de trás para a frente está acabando?

E acaba, deixando as mesmas ilusões e, empurrando para o próximo, algumas novas. O que fez com as desilusões? Não fez. Jogou-as para a frente? Talvez, mas otimista como sou, creio que as manteve como possibilidades, que poderão ser revertidas e tornadas verdadeiros sucessos de público.

Aninho em que os sucessos não tiveram o sabor de sucesso; foi mais um entre-ato, do que ato; mais ensaio do que peça em cartaz; um ano mais formiga do que cigarra; mais sem graça do que chuchu cozido na água sem sal. É isso! Faltou sal, vibração, o grito do gol; faltou o "frisson". E como não teve nada disso que torna as coisas emocionantes, pude me provisionar, tal urso faz para se proteger no inverno. Aliás, nem sei se urso faz isso; é só uma imagem hibernada.

dezembro 20, 2002

Uma retrospectiva de pessoas ditas "comuns"

Resolvi levantar as ações com que nós, pobre comuns mortais, marcamos esse tal ano que pode ser lido de trás para frente. Aqueles sucessos bem comunzinhos que não conseguiriam espaço nos jornais. Alguns não saíram nem de dentro da gente; são vitórias que dizem respeito a nós mesmos, e por isso têm valor, pela sua solidão indevassável. Começo, tirando do meu relato, qualquer tom de promessa; afinal, quem sabe do amanhã?

1. Posso dizer que me sinto uma profissional segura.

2. Aprendi a não adiar situações profissionais chatas. Comecei a peitá-las. Em parte, demorei a fazer isso, pela mania que meu pai tinha de dizer "vai levando no calor..." que traduzido quer dizer, vai empurrando com a barriga.

3. Aprendi que quando você diz, com aquela certeza interna, que quer uma coisa, a estrutura à sua volta, se reorganiza e absorve a mudança.

4. Ainda não venci totalmente a minha impaciência com o tempo do outro, com os puxa-sacos e com os chatos.

5. Abri espaço para mim e, sendo assim, as pessoas do entorno, se movem com mais liberdade.

6. Trabalhei muito. Isso algumas vezes foi uma bênção; outras, um fardo duro de carregar.

7. Aumentei a minha capacidade de não ouvir, quando não estou interessada.

8. Histórias repetidas continuam me enchendo.

9. Permaneço como a preferida para receber qualquer tipo de reclamação doméstica. E esse setor da economia informal caseira tem um crescimento ascendente, vertiginoso. Todavia, como expandi o item 7, sigo sem problema.

E paro por aqui, pois sou uma pessoa comum e minha cota de sucessos, nem como matéria paga iria parar nos jornais.

Se você também é uma pessoa comum, pode fazer a sua lista lá nos Comentários. Quem sabe a gente chega ao perfil desses que são as pessoas comuns?

BlogUpdate: Essa falta de comunicação é que enfraquece ou será que sou a única bem comunzinha?

Atrasada

É tarde para dizer Feliz Natal? Para você que eu conheço/desconheço. Para aqueles anônimos, para os que buscam aqui e não acham e aos que acham também. Claro que faltou a ambientação do pedacinho, mas ainda nem consegui armar a árvore de verdade, que dirá essa daqui. De qualquer forma, continuo acreditando que "precisamos de mais pessoas especialistas no impossível"! É claro que essa maravilha não é minha. Li, vou descobrir o nome do autor e conto para você. Um beijo.

dezembro 17, 2002

Fala sério, mas em alguns momentos da sua vida, aquela pessoa tem que estar ao seu lado! Não estou falando daqueles momentos das tristezas, das dúvidas ou das passageiras depressões. Estou falando daquelas horas efêmeras do seu sucesso! Como você gostaria de dividir aquela alegria e ver nos olhos do outro aquele orgulho que a sua própria modéstia esconde. Sem o outro fica meio que pela metade, não é não?

dezembro 11, 2002

O jantar.

Pois então, ontem foi dia do aniversário do com, sem ou com mais ou menos sorte, dependendo do dia: o marido. E fomos para o D'Amici, um restaurante que venho namorando há muito tempo, pois ele fica em frente ao salão, onde volto e meia, volto a ter aquela aparência sonhada. E sempre via os carrões que paravam na porta e pensava que ainda iria lá. Aproveitei e fomos ontem.

Por sorte, não deixei o aniversariante ir de bermuda, tênis e meia -- aquela conhecida roupinha de comprar pão. Não que seja chiquérrimo o lugar; para falar a verdade, nem me toquei se era ou não. Falam baixo as pessoas e isso é o mais chique para mim. De-tes-to quem fala alto. E claro, sou cercada de gente que grita.

Logo que cheguei, encontrei uma conhecida, nem tão conhecida assim, mas que fez tanta questão de me cumprimentar que até estranhei. Depois, maldosamente pensei que ela estava querendo "se mostrar" (tem gente que diz se Amostrar --- mas está erradíssimo!), talvez achando que eu era frequentadora habitual do lugar e esse foi o jeito que ela arrumou de me dizer que também era. Uma tolinha mesmo! Mas tudo isso foi a novelinha que eu criei em segundos na minha cabeça tonta.

O jantar, o máximo! O neto resolve dar uma de bem mané e me pergunta o que era aquilo: manteiga em bolinhas. Presta atenção se esse garoto nunca tinha visto manteiga assim! Tá de brincadeia. O aniversariante só mandava a filha falar baixo, como se o lugar fosse uma igreja. Logo ele que queria ir de bermuda surrada. O filho chega e entra de cabeça no vinho, que eu esperava tomar sozinha ou então, bem pobrezinha, levar para casa. Não, acho que não teria coragem de aguentar a cara de pena do garçon, como que dizendo: a classe C ou D ou Z chegou ao D'Amici! Essa é outra novelinha minha, pois duvido que ele fizesse isso. Os garçons de lá são finíssimos. A filha confirmou isso. Como ela está fazendo um curso de gastronomia, está às voltas com as temperaturas do vinho, entre outras armadilhas gastronômicas e resolveu testar o garçon, perguntando-lhe qual a temperatura daquele vinho. E ele, prontamente respondeu: 17 graus. Fiquei muda na minha ignorância sobre como a meterologia interfere no sabor dos vinhos, aliás bom título para uma dissertação de mestrado.

Enfim, a comida: comi um talharim ao vôngoli, com vinho branco e alho absolutamente perfeito. O aniversariante comeu um ravioli de pato e não deu para ninguém provar. Uma massa com bacalhau e um pargo completaram o menu familiar.

Saímos. O manobrista trouxe o super Palio, bem standard. O filho entrou no seu Gol, também standard e concluímos que nem só de carrões vivem os grandes restaurantes dessa cidade.

dezembro 10, 2002

LF, o neto está um adorável adolescente. Rodrigo, o neto 2 está rindo de qualquer coisa. LF, o filho está às voltas com o crescimento material, sem descuidar do espiritual. T., a filha, amadureceu e floresce em sua trajetória. O marido fez mais um ano de vida. A., a nora, alimenta o filho e não sei com o que sonha; se for assim, tudo bem. E eu, somo tudo isso e vou bem obrigada, impulsionada pelos sonhos que não me deixam parar e que vou realizar. E assisto a tudo e a todos àquela distância, que julgo protetora e que não me tolhe. Bendita essa distância que permite ouvir a voz de todos no tom certo. Custei a chegar lá.
Reparei que com tanto blog novo e com tanta gente desistindo, sou das antigas, também nos blogs. E tenho só 1 ano e sete meses. Moça prodígio? Não. Sinal dos tempos de aceleração.

dezembro 09, 2002

Mentira pequena não vale!

Agora vê, tem que ser muito mané para contar uma mentirinha à toa. Mentir, em si, já exige muita coragem; então como investir tanto por pouco. E mentem descaradamente por besteiras. Que as crianças lá pelas tantas faça isso, tudo bem, mas gnete grande? Dizer que estuda, quando não estuda. Dizer que foi, quando não foi. Dizer que fez, quando não fez? Presta atenção! Mentira só mesmo para grandes eventos e para esconder a maior verdade da sua vida.

Sabe uma coisa que não sou? Uma pessoa afogada em hábitos.
Lá na "cozinha"...

Falta água, falta café, mas sobra papo bom.

Quem precisa de calendário?

As filas das Lojas Americanas não mentem jamais! É dezembro!

dezembro 06, 2002

Casa "fora".

Quem já teve uma casa de veraneio vai me entender. Esse pedacnho está ficando tal qual. No início, a euforia que faz com que você vá para lá todos os fins de semana, sozinha ou com uma galera, não importa. A casa, em si, é o programa. Enfeites novos, acabar com as formigas, sentar e ver a vista da varanda, tudo é bom. Passa o tempo e você percebe que os filhos não querem mais subir com vocês. A volta torna-se cansativa e arrumar as tralhas que você traz de lá para cá, um suplício. Enfim, pouco a pouco, desfaz-se o encanto. Cria-se uma dívida com a casa, cada vez que você não vai lá. E você acaba, vendendo a casa. Pois então, para não vender esse espacinho aqui, ainda mais que ele não é comercializado, estou com o espanador na mão, dando uma espanada para expiar a minha culpa pelo abandono. Continuo achando a vista daqui muito bonita. Os amigos são sempre bem-vindos e afinal, o verão está chegando e o amanhecer aqui está prometendo. Não vendo, mas quem sabe pinto ou reformo ou troco os móveis de lugar? O negócio é criar o movimento e não desmanchar o vínculo.

dezembro 02, 2002

Vai uma pipa aí, doutora?

Era só o que queria que me perguntassem hoje. Uma pipa só não basta. Quero as 19 que estão aí em cima, turbinadas com um motor potente para voar bem alto! Até que se não tiverem um motor tão potente também serve, pois minha cabeça pesa, mas a alma está leve. Aliás, acho que o peso vem da alma, acrescida das gordurinhas extras, sem dúvida.

Projetos grandes. Papi Noel começando a entoar Ho! Ho! Ho! Um dezembro que parece ter começado mais cedo. A árvore para montar, que não me deixa esquecer o seu desmontar. A idéia de tudo piscando. Os pintores entrando pela porta, fazendo tudo virar azul hortência, uma cor que inventei e não sei bem qual é. A mãe entremeando falas desconexas à realidade e mais isso, e aquilo e mais aquelas brechas que não sei quando vêm...

Como é que estou conseguindo a alma leve? Pura falta de tempo para torná-la pesada, penso eu. Há uma certa expectativa boa no ar. Um proseco novo, quem sabe? "Viver e não ter a vergonha de ser feliz..."