Pois então, um dia eles saíram do papel incômodo das histórias que viveram até então e juntaram-nas num novo roteiro. Nem pensaram que não fosse dar num final feliz. Aliás, se pensassem, era melhor nem começarem nada novo e permanecerem no final previsível que vislumbravam e que foi um dos motivos do surgimento do desejo de novo roteiro. Seria o máximo da falta de fome, com a vontade de não comer, não é não?
Acontece que às vezes, as engrenagens se juntam, que não há como mantê-las isoladas. Ainda assim, apesar de todo o óleo que lubrificava as juntas, os dois levaram anos pensando, se imaginando em seus novos papéis, decorando respostas, antes das perguntas serem feitas; enfim, pensaram, pensaram. Partiram.
Ela virou fazendeira. Logo ela que adorava o "frisson" / bochicho da cidade; se amarrava num shopping às vésperas do Natal ou do Dia das Mães. Ele fazendeiro? Só porque queria ter uma horta? Partiram mesmo.
Então, o novo roteiro, tinha os Oscars merecidos e protagonizados pelos personagens centrais e um monte de coadjuvantes. Ela ganhou mais três filhos, um genro, mais um neto. Ele ganhou mais duas filhas, dois netos e uma nora. Isso sem contar, os tios-mala, as tias-mala, dois pais e duas mães!
Atores principais que se garantem, mantêm os coadjuvantes como coadjuvantes, importantíssimos para comporem o cenário da história, mas sem nenhum direito a voto de concordo ou não com a sequência que os atores querem dar à história.
Então, os dois combinaram assim: há uma só ala - a dos coadjuvantes, que será sempre uma unanimidade: ou todos são lindos, ou todos são perfeitos, ou todos têm defeitos ou todos são umas gracinhas ou umas drogas que só trazem problemas. Agora, quando cada um estiver estiver só com a sua ala, com o sangue do seu sangue, aí pode falar mal à vontade, meter o pau, descer a lenha, bronquear.
E a fazenda tem permanecido aberta para as visitas, os almoços e os jantares. E os detentores do Oscar, nessa nova história, agradecem os aplausos, pois é o único retorno aceito por eles, atados pela química até hoje, nessa historinha inventada, mas tão bonitinha.
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Pois então, uma viagem a São Paulo dura no máximo 45 min., certo? Mais ou menos. Dentro do avião, lá em cima, você pode levar esse tempo, mas até chegar lá... Ontem, na ida o vôo atrasou 1 h e meia. Na volta, após 2 horas de sala de embarque, em que não foi cogitado que as pessoas gostam de ficar sentadas, depois de um dia de trabalho, nos colocaram num ônibus, mais parecido com o 455, o metrô, o trem da Central às 6 horas da tarde. Éramos sardinhas. Fiquei esperando entrar um menino vendendo bala de tamarino ou então alguém pedir: um passinho à frente, por favor. Será que alguém me explica como duas cidades como Rio e SP, que têm um fluxo aéreo diário enorme, têm dois aeroportos como o Santos Dumont e Congonhas? Não precisa chover muito; o que não pode é as nuvens baixarem demais. Pára tudo! Então, você gasta um dinheiro, para ter um vizinho estressado por conta da reunião que já perdeu; para ouvir a conversa da moça que falava incessantemente ao celular; para assistir três vezes -- prestatenção! -- três vezes ao mesmo clip! E sabe o que é pior, vão dizer que a culpa é da natureza, que armou um tempo tão impróprio.

Entendi o que a Lua quer me dizer ao piscar assim para mim. Não preciso saber o que há do outro lado da Lua.

